Há algumas coisas que me irritam. No meu post “Educação e Cidadania andam de mãos dadas” falo de algumas delas no primeiro parágrafo. Por exemplo, malta que entra nas rotundas sem ligar o pisca-pisca (sinalizar manobras? para quê? para quem?); gentinha que deita lixo para o chão (e quantas não o fazem acompanhadas de criancinhas pela mão!); selvagens que ouvem musica aos gritos sem se preocuparem com o próximo; gente que acha que a Democracia caiu do céu sem que tenha havido gerações a lutar por ela e sem que nós todos sem excepção, todos os dias, não tenhamos também de lutar por ela (embora, felizmente, já de uma maneira diferente); gentinha que come pipocas no cinema ruidosamente; gentinha que acha que os políticos são todos “iguais”, corruptos, mas depois não vota, não participa em nada, não faz a ponta de um corno para dar a sua participação cívica seja em que área for, não paga impostos; etc.
Claro que estes exemplos têm a sua escala de importância que não interessa ordenar agora. E até porque a irritação varia não só com a substância do assunto, mas também com o ânimo da aqui autora. Mas encontro nestes exemplos um traço comum: irrita-me a falta de respeito com o próximo. Dentro destes exemplos que considero uma falta de respeito estão aqueles em que me chamam estúpida. Mas calma, não é um “estúpida” qualquer! Fazendo alguma introspecção e dissecando a coisa, percebo que o “estúpida” que me ofende é aquele em que o autor, sendo tão estúpido, nem percebe que me está a chamar estúpida. Passo a explicar. (Podia dar outros exemplos, mas aqui só me interessa falar do que tem a ver com este blogue.)
Eu gosto de ler. E, para além de gostar de ler, fui e sou obrigada a ler. Na faculdade li que nem uma moira. E hoje em dia que remédio tenho eu senão ler algumas coisas para me manter actualizada. Por mim passava o dia a ler romances como o Equador, ou Os Maias, mas é impossível. A malta é mesmo obrigada a ler, seja pela profissão, seja pelo folheto do supermercado (há que economizar), seja pelos documentos das Finanças que é necessário preencher para tratar do IMI...
Vem isto a propósito das coisas que me irritam. Uma bela tarde, estava eu numa reunião de Conselho Pedagógico interminável (diga-se interminável, porque as/os senhoras/os professoras/es estavam em conversas cruzadas sobre as revistas que tinham na mão e nunca mais se calavam o que fez perder imenso tempo à presidente do Conselho Executivo que teve de dar murros na mesa para mandá-las/os calar e fazer-se ouvir), quando foram distribuídas umas fotocópias de um Despacho Normativo vindo do Ministério da Educação e que era suposto o Conselho Pedagógico conhecer.
Eu, que sou curiosa no geral e nesta matéria em particular (fala-se em educação dos meus petizes e sou toda orelhas), esperei ansiosamente que as folhas me chegassem às mãos. Qual não é o meu espanto quando, em vez da célebre página do Diário da Republica ou de uma folha qualquer oficial com os dísticos do Ministério, entregaram-me umas 10 páginas em documento word, cheias de --> setas, cores, letras de vários tamanhos e feitios, dezenas de pontos de interrogação???? e de exclamação!!!!, dezenas de reticências..., dezenas de sublinhados, onde nem um boneco faltava! Pá, digam-me, o que é que acham que eu pensei? Engano nas folhas, só pode ser! Toca de ir ler...o que com o barulho das conversas cruzadas era difícil, mas assim fiz. Bom, uns momentos para respirar fundo e, afinal o que é que era aquilo? Perguntam bem. Segundo o autor do “documento”, aquilo era o Despacho Normativo do Ministério, embora estivesse lá em baixo o nome do elemento do Conselho Executivo que redigiu as folhas. Que paciência. A criatura tinha redigido um “resumo” do Despacho, imagino eu para ser “explicativo”, assim como se nós fossemos todos muiiiito burros e ele a mente privilegiada que nos ia trazer a luz. Com muita calma ainda esperei algum tempo para perceber se iam distribuir o original, o verdadeiro despacho, que era suposto ficarmos a conhecer e, assim não perderia tempo a decifrar tanto adjectivo e tanta exclamação...mas nada. Era só aquilo e tal facto não parecia preocupar ninguém.
Conclusão: “li” as 10 folhas A4 completamente escritas (de um Despacho que vim depois a conhecer com apenas uns 8 artigos) e não percebi rigorosamente nada. Aplaudi em silêncio a preguiça dos meus neurónios que teimavam em fazer greve, como se se recusassem, por uma questão de principio, a fazer o esforço inútil de tentar decifrar os gatafunhos e dissessem para a dona: - pá, não nos faças trabalhar para entender o impossível...
Devo ainda contar que quando chegou a minha vez de comentar o “documento” (fui das ultimas a falar) já tinham passado duas horas de “discussão” sobre os propósitos do dito despacho (leia-se as folhas redigidas pelo tal prof. da escola), e a minha boca só se abriu para dizer: - não posso comentar, pois não conheço o teor do despacho.
Fez-se um silêncio providencial que a aqui autora agradeceu pois já lhe doía a cabeça, interrompido pela voz do autor do “documento” com uma indignação muito mal disfarçada: “- o despacho diz o que está aí escrito”. Olhei para a coisa e só respondi: “- sim, acredito que para o senhor assim é, mas eu precisava de ver o original.”
Para quem não me conhece é normal que pensem que fui muito pouco empenhada por ter desperdiçado a oportunidade de explicar umas coisas ao senhor. Mas a experiência diz-me que não vale a pena estar a falar para portas fechadas. E há dias em que a paciência não é muita. Se o homem não percebe estas coisas sozinho, não ia ser eu a perder o meu tempo a explicar o evidente.
Como podia ser eu, ali apenas uma representante dos pais, que por sua vez representam os alunos, a elucidar aquela cabeça, cuja profissão é suposto consistir em ensinar, e que ainda por cima é muito mais velho do que eu (logo com mais experiência, diria eu, deixem-me rir), que em nenhum local do planeta Terra, podemos estar a trabalhar sobre um documento que tem um autor (o legislador, neste caso) e alterar...até me faltam palavras...alterar TUDO? Eu lá tinha capacidade pedagógica para lidar com aquilo?
Ainda hoje guardo as folhas para as usar numa ocasião se me der jeito. Por exemplo, para demonstrar o mérito interpretativo da alma em causa. Sim, não nos percamos em pormenores que aquilo de o homem nem saber justificar um texto era só uma falha “tecnológica”. O homem desconhecia era completamente as regras da honestidade e do bom senso quando lidamos com as palavras do outro.
A criatura ainda não deve ter percebido que ninguém lhe pedia para ser interprete do Direito, senão o homem não estava numa escola do 1.º ciclo. Que nenhum Prof. Doutor da área se atreve a “escrever por palavras suas” a própria letra do legislador. Mas o que estava em causa nem era a questão da opinião nesta matéria ter de ser habilitada, como já perceberam. Aos especialistas o que é da sua competência, ou “cada galo no seu poleiro”, como preferirem. O que estava mesmo em causa eram, apenas, as regras simples da honestidade e do bom senso quando lidamos com “as palavras” do outro, como já disse, e que qualquer ser bem formado intui (até) por uma questão de respeito.
Hoje lembrei-me deste episódio a propósito das várias leituras que tentei fazer, na net, de textos escritos por professores. Salta logo à vista uma evidência preocupante: a criatura não estava sozinha no estilo. Tinha atrás de si um exercito de colegas que eu na altura desconhecia! A quantidade de letras com vários tamanhos e fontes diferentes dentro dos mesmos parágrafos, a confusão das cores supostamente, imagino eu, para destacar o que consideram mais importante mas que nos ofuscam ainda mais do que os máximos do carro ligados – é impossível. Eu tento mas não consigo. Quanto ao conteúdo não sei, não me posso pronunciar, porque não consigo ler. Espero que tenham cuidado com a palavra dos outros, pois a autoridade que tanto reclamam também começa por aí. Por sermos honestos, numa palavra.
Nota: Saí da sala a tempo ainda de ouvir a professora que mais barulho tinha feito durante toda a reunião (abanava com uma revista para as amigas e falava de um tal Castelo Branco que me pareceu não ser o Camilo) dizer: “- os estupores lá fora fazem um chavascal que já me dói a cabeça!”. Era o barulho, fantástico, das crianças a brincarem no recreio...
A ministra da Educação tem uma proposta simples: que os professores entrem e progridam na carreira, não em função de um direito natural ou da antiguidade, mas do mérito. Dos resultados obtidos, das aulas dadas, das provas prestadas. Antes mesmo de conhecerem os detalhes da proposta, já os Sindicatos dos Professores estavam a ameaçar com “a maior greve que o país jamais viu”. Nesta resposta sindical, além da intragável atitude sistemática da Fenprof e do indigerível Paulo Sucena, encontramos a própria resposta à razão da decadência continuada do movimento sindical. Porque o mundo mudou, mas eles continuam a defender o mesmo de sempre: o “colectivo”, a “luta de massas”, os que têm emprego garantido até à eternidade, os que acham que todos devem ser tratados por igual, quer trabalhem e se esforcem quer vivam de meter “baixas” e fazer greve sem razão. Só um mau trabalhador teme uma selecção baseada no mérito; os bons não temem, e, por isso, os bons não estão hoje nos Sindicatos. Não é uma boa notícia, é uma má notícia: os maus patrões agradecem.
Os professores portugueses são os terceiros mais bem pagos no “ranking” dos 30 países da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE), revelou hoje Ben Jensen, responsável do departamento de Estatísticas da Educação daquele organismo.
Tendo como valor de referência o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de cada país, Ben Jensen disse que, de acordo com dados de 2003, Portugal só é ultrapassado pela Coreia e pelo México. Os dados relativos a 2004 serão conhecidos na próxima terça-feira, mas, segundo o especialista, são "idênticos" aos de 2003.
Ben Jensen está no Porto, a convite da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), para participar no fórum "Uma visão desafiante para a profissão docente do século XXI", que hoje decorre.
Em declarações aos jornalistas, o especialista frisou que, "em Portugal, os salários dos professores estão bastante altos", referindo também que, em relação ao número de alunos por turma, o nosso país está igualmente "bem colocado". Neste parâmetro, Portugal ocupa o 9º lugar na lista dos países com turmas mais reduzidas, tendo em média 20 a 25 alunos.
Segundo o relatório ‘Panorama Educativo’, no 1.º Ciclo, um professor português trabalha 783 horas por ano; no 2.º Ciclo 626 horas e, no Secundário, 580 horas. A média da carga horária da OCDE é superior: 795, 701 e 661 horas, respectivamente.
Um professor do Ensino Básico em início de carreira recebe em Portugal 1135 euros mensais brutos. No topo de carreira ganha 2992 euros, revela um estudo da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE).
Longe de mim dizer que os professores ganham muito, ou sequer bem, em Portugal. Na minha opinião até deveriam ganhar muito mais. Afinal pagamos os nossos impostos para termos serviços de qualidade e a Educação, como a Saúde, são para uma prioridade. Nestas áreas justificam-se todos os investimentos. Mas também não gosto do discurso do desgraçadinho. Não há nada como falar claro e sem rodeios. Ninguém fica rico leccionando, obviamente. Mas afinal a coisa não é assim tão miserável como alguns nos querem fazer crer. E ainda bem! Pode saber mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Não resisto a divulgar aqui o programa AFS - Estudar um ano no estrangeiro. É uma ideia fantástica para os petizes entre os 15 e os 18 anos! Durante um ano os jovens têm a oportunidade de viver noutro país - que pode ir desde o Japão à Nova Zelândia - e estudar numa escola secundária, vivendo com uma família de acolhimento.
Há uns tempos encontrei na net um blog de uma miúda de 16 anos que estudava nos Estados Unidos. Li tudo de rajada, impressionada com as experiências extraordinárias que este tipo de vivência pode trazer a alguém tão jovem.
Não tenho dúvidas de que a visão do mundo destes jovens, que participam no programa, nunca mais será a mesma. As inscrições terminam a 15 de Fevereiro. Se quiser saber pormenores veja em http://www.intercultura-afs.pt/
A autora do blog está a banhos com a família . No entanto continua com um olho atento às notícias do reino. Assim que voltar ao activo voltarão os posts com as suas singelas opiniões. E Setembro promete. A toda a comunidade educativa: - umas óptimas férias!
Muito se disse sobre a ida da Sra. Ministra à A.R . dar explicações sobre a polémica decisão de mandar repetir os exames de Física e Química. Não vou tecer considerações sobre a oportunidade da decisão. Outros falarão com mais propriedade. Mas quero tecer considerações sobre a demagogia feita por muitos deputados e a falta de urbanidade de alguns.
Ficou claro que apenas entenderam aquela ida à Assembleia como uma oportunidade de se vingarem das batalhas, todas perdidas, ao longo destes 16 meses… (E eu que votei toda a minha vida no partido de um elemento da A.R . que usou da palavra da pior maneira!) Ficou claro que nenhum soube explicar o que teria feito melhor para “remendar” o mal provocado por reformas em cima do joelho herdadas de governos anteriores.
Eu, que acredito que os políticos “não são todos iguais”; eu que acredito que são insubstituíveis (como poderá a sociedade organizar-se em democracia sem políticos?); eu que acredito que há vários que trabalham pela gestão da pátria pensando no melhor para todos…fiquei desarmada perante os cépticos da política, pois estes deputados não se dignificaram…não nos dignificaram!
Mas há surpresas boas que se têm! Ainda há pensadores livres, mesmo dentro das máquinas partidárias! Ainda há quem defenda o que considera mais justo, sem pensar se isso lhe trará votos ou não! É um desses exemplos que me ocorreu citar, para os que ficaram desiludidos com os nossos deputados pelas mesmas razões que eu:
Ex-ministro de acordo com a tutela na questão dos exames de Física e Química / notícia no D.N.
David Justino, ex-ministro social-democrata da Educação, elogiou a forma como a actual ministra Maria de Lurdes Rodrigues geriu a questão dos exames de Física e Química.
"No plano político, fez-se o que se deveria fazer: tratar como excepção o que parece ter sido excepcional e tentar atenuar os prejuízos que essa excepção provocou", escreveu David Justino, actual assessor para os assuntos sociais do Presidente da República, num artigo de opinião publicado no número de Agosto da revista "Pontos nos ii".
David Justino alertou para eventuais "erros de concepção dos testes" e para a necessidade de avaliar se os exames "correspondem ao 'standard' exigível e ajustado aos programas, ao ensino e às disciplinas".
Depois de feita essa avaliação, acrescentou, devem retirar-se "as ilações políticas que as circunstâncias exijam".
Frisando saber, "por experiência própria", que "não há ingerência política nos serviços de exames", David Justino sustentou que "se os erros e os desajustamentos persistem então a política tem de actuar".
David Justino criticou as "carpideiras de serviço" que insistem em misturar os planos técnico e político e que "mesmo sem conhecer o morto choram por estranho efeito de contágio".
No seu artigo, o ex-ministro da Educação critica a "elite bem pensante e mediática" que "aproveita para dissertar sobre o cataclismo das negativas que alguns títulos e notícias pintam de negro" sem antes analisar os resultados reais dos exames.
Nota para os apressados a retirar conclusões: Não, não acho que tenha sido um bom ministro, antes pelo contrário. A satisfação que as suas palavras me trouxeram foi por ter tido a prova de que ainda é possível ter um pensamento próprio dentro das máquinas partidárias e não subordinar as intervenções públicas às exigências da agenda política. (E como é mais fácil estarmos juntos numa imensa carneirada...)
Para gáudio de muitos: hoje estou aborrecida com o Ministério da Educação!
Li uma afirmação do Sr. prof . Paulo Sucena (mas ainda podemos considerar alguém professor quando não lecciona há décadas? A partir de hoje, no que diz respeito ao tratamento que dou ao excelentíssimo, está-lhe retirado o epíteto de professor, tenho dito) dizia eu, li hoje uma afirmação do dito “Sr. profissional dos sindicatos há uns 30 anos” que nos dava a fantástica novidade: “- podemos fazer mais um dia de greve, dois, três, quatro, os que forem precisos!”
Eu acho bem. Assim como assim, as greves são a única altura em que os professores faltam à escola mas não recebem o dia. Isto, porque dado o laxismo do sistema todos sabemos que há sempre uma maneira de justificar a habitual faltita e por isso os euros entram à mesma na conta do docente. Sendo assim: ao menos quando estão de greve não sai do erário público pagamento nenhum…
A minha ideia é a seguinte: mais semana, menos semana de aulas, acaba por não fazer muita diferença, pois os prejudicados são sempre os mesmos: OS ALUNOS!
Claro que, como estes profissionais dos sindicatos não ignoram (nessas matérias são muito empenhados, pudera, sobra-lhes tempo livre…), os prejudicados também são, como sempre, os ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO. E como sofrem! Vemos os nossos educandos com menos aulas do que as previstas inicialmente, com os reflexos que daí advêm no seu sucesso escolar… E muitos dos pais são obrigados a faltarem aos seus trabalhos porque não têm onde deixar os jovens. E não há que ter vergonha de o afirmar, ou ter qualquer sentimento de culpa – é a verdade muitas vezes trágica!
Por isso, quanto aos prejudicados estamos falados. Lá vamos indo…
Vinha isto a propósito de hoje estar particularmente aborrecida com o Ministério da Educação.
No passado ano, o Governo reduziu o número de professores a exercer funções sindicais a tempo inteiro de 1327 para 450. Não houve comentador político que não elogiasse a medida, desde a esquerda à direita, pois como sustentar 1327 pessoas a viverem à sombra do sistema no estado em que o país está?
Acontece que ontem os sindicatos de professores chegaram a um acordo com o Ministério da Educação quanto à distribuição dos 300 docentes que irão exercer funções sindicais a tempo inteiro. O acordo não me espanta nada (mais vale um pássaro na mão…) e acho bem. O que me surpreende é o número de Srs. e Sras. que vão exercer a tempo inteiro funções sindicais! 300?!
E quem paga? O erário público. Se o Estado gastava anualmente com estes docentes cerca de 20 milhões de euros em salários, agora parece que vai passar a gastar “apenas” oito milhões de euros…Oito milhões de euros? Terei lido bem? Ora…deixa lá ver…isso dava para quantos aquecimentos nas escolas que não têm…quantos computadores…etc., etc. Por isso estou zangada com o Ministério.
E não me venham com a lengalenga do discurso economicista. Do Estado exige-se rigor e contenção com os dinheiros que são de todos. Quando é que vão perceber?
Para os mais lerdos, não digo que não tenha de haver sempre lugar para docentes a exercerem funções sindicais a tempo inteiro. Claro que sim. A função sindical é das mais nobres conquistas civilizacionais que nos trouxe o 25 de Abril. Assim como o instituto da greve. Mas, meus amigos: o abuso do direito deve ser penalizado. Senão juridicamente (não estão reunidos os pressupostos), então politicamente! Estes senhores precisam saber que muito do eleitorado que vota nos partidos que sustentam ideologicamente a maioria dos sindicatos dos professores (e muita vocação têm os professores para a função sindical: já repararam na quantidade astronómica de sindicatos que têm em comparação com as outras áreas profissionais?!), precisam de saber, dizia eu, que muitos desses eleitores andam a pensar melhor onde depositar o seu voto na próxima vez que formos às urnas!
Não é o eleitorado de direita ou aquele que nunca vota que sente o “abuso” da actuação dos sindicatos! (Ou porque esse já pensava assim há muito tempo, ou nem pensa nada de relevante no caso dos que não votam.) É o eleitorado de esquerda que começa a ficar fartinho (mas fartinho mesmo) de tanta desconsideração dos que, obcecados por uma guerra sem qualquer sentido, andam a ter por nós!
Nunca é demais lembrar que a todos os pais e encarregados de educação assiste o direito de participar no processo educativo dos seus filhos ou educandos. Podemos fazê-lo individualmente, mas também integrados em Associações.
Do meu ponto de vista, as Associações de Pais assumem cada vez uma maior importância. Assim como é cada vez mais importante que os pais tenham uma nova postura perante a vida escolar dos seus educandos, muito mais envolvente.
A Associação de pais está representada na Assembleia de Escola, no Conselho Pedagógico e no Conselho de turma (neste caso, um elemento da turma indicado pela Associação de Pais). Também se reúne com o Conselho Executivo / Director da escola para tratar de assuntos relacionados com a vida do estabelecimento.
Posso acrescentar, pela minha experiência pessoal, que também é muito mais interessante pedir – e conseguir – uma reunião com os órgãos autárquicos (junta de freguesia, câmara municipal) enquanto Associação, do que enquanto encarregada de educação individualmente.
Por estas e por outras razões, se a sua escola ainda não tem uma Associação de Pais crie você uma. Não dá trabalho nenhum (quase nenhuma papelada), e pode dar-lhe muitas satisfações pessoais. O que é que nós não fazemos pelo bem-estar dos nossos filhos?
Uma advertência: se pensar fazer parte dos órgãos sociais da Associação, não se esqueça que passa a agir não apenas como encarregado de educação mas também como representante dos outros pais na escola. Isso acarreta uma série de responsabilidades.
Boa Sorte!
Nota: por razões óbvias, as opiniões desta encarregada de educação individualmente considerada, não se confundem com as posições tomadas enquanto órgão social das associações de que faz parte…
A propósito dos exames de Química da primeira fase já muito foi dito. Não sendo a minha área e, dado o facto dos deputados da oposição presentes na AR no dia da discussão desta matéria… apenas me terem esclarecido sobre a sua falta de educação, não pude deixar de procurar as opiniões de quem realmente sabe do que fala.
Perguntei a uma amiga, licenciada em Química e professora do 1.º Ciclo, a opinião dela, mas infelizmente ainda não tinha visto as provas…apesar de estar “contra”, pelo que tinha ouvido dizer…
O Prof. Doutor José Teixeira Dias é professor catedrático de Química, e completa este ano, 40 anos de serviço (26 na categoria de professor catedrático), como docente universitário e investigador na área de Química-Física Molecular.
Elaborou um parecer sobre este assunto e que passo a transcrever.
Assunto: opinião sobre o exame de Química, 12º ano, prova nº 642
Sou professor catedrático de Química, completando, no decurso de 2006, 40
5. Talvez por esta razão não seja frequente a apresentação, em conceituados livros de Química, de equações químicas de polimerização estequiometricamente acertadas.
Leiga na matéria, para mim uma coisa é certa: antes UMA opinião de quem sabe o que diz do que MILHARES de bitaites de quem sabe muito de propaganda mas nada sabe daquilo que se trata.
http://www.gave.pt/2006/quimica642_fase1_parecer.pdf
Na sequência do comentário da leitora “cidadã consciente” publicado meu post “Educação e Cidadania andam de mãos dadas” decidi, conforme lhe digo na minha resposta, escrever sobre os bons profissionais, pelas razões que enunciei então, na resposta a esse comentário.
Por isso publico aqui, em homenagem aos professores fantásticos que tive, aos outros que no mesmo local refiro e a todos os que andam por aí e que espero que sejam muitos… uma crónica assinada pelo Prof. Doutor Daniel Sampaio, Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, e que penso dispensar mais apresentações.
SOU UM PROFESSOR SÓ
Meu velho:
Desculpa estar sempre a mandar e-mails com as chatices da escola, mas és a única pessoa com quem posso desabafar sem problemas. Estou numa escola que conheces e, pelo que descreveste, pouca coisa mudou. A única diferença é que agora somos obrigados a estar mais horas e a confusão é grande. Imagina que se faz fila à porta do CE e que nos mandam dar aulas de substituição nas escolas do agrupamento, incluindo a do primeiro ciclo! Muitos colegas andam revoltados e os alunos não aceitam com facilidade um professor que não conhecem.
Eu vou fazendo pela vida. Não sou capaz de alinhar com os protestos, fiz greve apenas para não dar nas vistas; mas também sinto que as coisas precisam de ser melhoradas e por isso escrevo. No teu último mail recomendavas que me concentrasse na função actual do professor. Podes crer que fiz o TPC e aqui vai.
Sabes, António, sempre desejei ser professor. Quando era criança, inventava aulas a partir de um quadro preto que o meu Padrinho me tinha dado: explicava os meus próprios trabalhos a alunos imaginários, conversava com eles e até lhes ralhava. Fui para Estudos Portugueses porque sempre adorei ler e queria partilhar esse gosto com gente mais nova, depois fiz muitas acções de formação (com e sem créditos) para ver se ensinava melhor, estou na terceira escola e não quero desistir. Sabes o que não quero abandonar? O meu gosto em estar com crianças e jovens, nas diversas situações que ocorrem numa escola. Gosto de dar aulas, sobretudo quando consigo transformar a turma num grupo de trabalho e ponho toda a gente a participar. Adoro colaborar com a Associação de Estudantes e, bem ao contrário de ti, até tenho paciência para ouvir os pais, que recebo muitas vezes. Tenho muitas dificuldades, como sabes: os alunos têm poucas regras, sabem muito pouco e só falam em 'curtir', por isso às vezes me interrogo sobre o caminho a seguir. Com franqueza te confesso: sinto-me um professor só, às vezes quase um ET no meio da confusão, mas quero que me entendas. O meu lema é aproveitar TODAS as oportunidades para estar com os alunos, continuo com a ideia firme de que tenho coisas para lhes dizer e de que eles terão o maior gosto em estar comigo. Detesto quando os meus colegas (até tu) se põem a dizer mal de 5 mais novos, que não têm maneiras, que são ordinários ou desmotivados que parecem loucos. O nosso papel, a essência da nossa profissão não é justamente ajudá-los a crescer, escutá-los de forma activa, evitai que deixem a escola ou impedir que a frequentem sem sucesso? Posso dormir descansado quando cerca de 30% dos alunos da minha escola não completam o Secundário?!
Meu caro, não posso concordar com os colegas que dizem que estar com miúdos pequenos é ser 'ama-seca' ou 'entertainer'. Para mim, é uma ocasião que não posso perder: quero ouvi-los sobre as suas questões, auscultar os seus pontos de vista, ajudá-los a estudar, brincar com eles de forma organizada. No dia em que me convencer que os alunos do meu agrupamento, de todas as idades, se recusam a estar comigo, abandonarei a escola, porque de facto o meu ofício deixou de fazer sentido.
Estou de acordo que muito há a fazer para melhorar a confusão actual. As coisas precisam de ser mais bem explicadas e sobretudo melhor aplicadas. Mas recuso-me a cruzar os braços e a confessar que não sou capaz de falar com uma sala cheia de jovens desconhecidos. Mesmo que eles não me queiram à partida, não concordo: educar é também dizer não e acredito que tenho muita coisa para lhes dar. Responde depressa.
Um abraço, Hugo.
Esta Crónica foi publicada na Revista XIS, Jornal Público, a 03-DEZ-2005, e pode ser lida aqui.
Educação, professores e avaliação
Todos os governos têm bons e maus ministros. O actual Governo não é excepção: alguns ministros são excelentes, outros desastrosos.
A mais agradável surpresa entre os actuais governantes é provavelmente a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.
Mais recentemente a ministra começou a atacar o problema do insucesso escolar. Todos reconhecem que este é um dos problemas mais graves com que o país se defronta.
Apesar de Portugal ser um dos países do mundo que mais gasta em Educação, os resultados são muitíssimo insatisfatórios. Estamos num dos últimos lugares na Europa no que respeita ao nível educacional da nossa população. Arriscamo-nos mesmo a ser ultrapassados pela Turquia, país bem mais pobre e atrasado do que Portugal. É impossível pensar-se numa economia desenvolvida e moderna – com ambições de acompanhar o desenvolvimento baseado no conhecimento e de pôr em prática um ambicioso plano tecnológico – e manter um nível de insucesso escolar comparável ao dos países do Terceiro Mundo. Os nossos jovens deixam a escola com muito poucos conhecimentos; pior ainda, saem com o sentimento de que a exigência não interessa, que os exames são uma aberração, que a escola não os ajuda na sua vida e na sua realização profissional.
A grande controvérsia que hoje impera no mundo da educação resulta de a ministra ter afirmado que os professores também são responsáveis pelo insucesso escolar. E, no entanto, nada é mais natural: os professores têm uma missão bem definida, muitíssimo importante e insubstituível – educar.
São eles quem dia a dia recebe as crianças, com a extraordinária missão de lhes transmitir conhecimentos, de os formar, de os preparar para a vida profissional e para o papel que cada um deve desempenhar na sociedade. O seu trabalho é dos mais nobres e dos mais importantes em qualquer sociedade.
Há evidentemente muitos bons professores em Portugal; há também muitos outros que encaram o seu trabalho como uma rotina que tem de ser cumprida, sem qualquer preocupação com os resultados.
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Toda a administração pública portuguesa é avessa à avaliação. Muitos professores e, sobretudo, os seus sindicatos consideram a avaliação insultuosa, com o argumento falacioso que se destina apenas a poupar dinheiro.
A realidade é bem diferente: a pedra-de-toque de qualquer grande organização é a sua disponibilidade para aceitar uma avaliação séria, exigente e, sobretudo, independente.
Ao recusarem a avaliação, os professores – ou alguns deles – estão a prestar um péssimo serviço aos seus alunos: eles vão ser avaliados sempre, pela vida fora. Bem ou mal, essa avaliação determinará o sucesso ou insucesso que terão nas suas vidas. E quase sempre a avaliação será exercida de forma exigente e decisiva, pelo mercado, pela profissão, pelos destinatários da sua actividade. Os professores não podem argumentar que o que se aplicará aos seus alunos não é válido para eles próprios.
As frentes de batalha que, provavelmente contra a vontade da ministra, se vêm abrindo na educação são das mais decisivas para o futuro do país.
Maria de Lurdes Rodrigues trouxe ao Ministério da Educação uma extraordinária lufada de ar fresco. Pela primeira vez, desde há muitos anos, se estão a atacar os verdadeiros problemas de um sector fundamental da acção do Estado.
Artigo de ANTÓNIO BORGES,
Ex-Dean do Insead, em Fontainebleau, França; Membro do Conselho de Governadores do Wellington College, em Inglaterra e membro do Concelho de Administração da Universidade Bocconi, em Itália.
Nota para os aliens desesperados que, confrontados com opiniões diferentes das suas, acusam os seus autores de “estarem comprados”: Querem ver que o P.S. conseguiu comprar o António Borges, “barão” do P.S.D.? Quanto terá custado?
Encontrei um texto engraçado, que julgo importante porque transmite o que muita opinião pública sente. Pelo menos é o que me dizem muitos pais já cansados de irem por os filhos à escola e não terem professor.
Texto retirado de “O jumento”, um dos blogs mais populares da blogosfera. É impressão minha ou ele já foi professor? Será que sabe do que fala?
Nunca como hoje os sindicatos dos professores estiveram na rua.
Aliás, pergunto-me para que precisaram estas instituições de centenas de "professores" nas suas fileiras, que sobem na carreira de professor mas dão tantas aulas como eu!
Como vamos melhorar a educação nos próximos anos?
O Debate Nacional sobre Educação tem animado vários seminários pelo país fora e a discussão pública continua até ao final de Novembro. (…)
Saiba tudo em http://www.debatereducacao.pt/dne/
Muita polémica tem gerado o encerramento de escolas. Como sempre, fazer demagogia é fácil, é barato e no caso de alguns até dá milhões! No caso dos Sindicatos e “dos professores” (alguns, meus senhores, alguns: não são todos…), pois claro, esses milhões são traduzidos nos lucros mediáticos que resultam de mais uma campanha contra a Ministra que não gostam apenas porque um dia tocou nos seus interesses, corporativos, e isso não lhe perdoam.
Nota: Gostava de saber porque é que eu, normalmente atenta ao que diz a comunicação social, nunca tinha ouvido falar deste assunto, e estamos a falar de um trabalho já de Dezembro de 2005. O que é bom não gera notícia?
Nota: Este post tem uma enorme lacuna: não expliquei porque é que cá em casa achámos “tanta graça” ao texto do professor em causa. Para quem achou que eu podia ser avessa às novas tecnologias (não sou, muito pelo contrário!) leia aqui na resposta que dou a um comentário, as razões que motivaram a risota...
Ficámos a saber os números. Eu confesso que não me surpreendi. O que me surpreendeu, francamente, foi a falta de vergonha dos sindicatos e a lata ilimitada de alguns partidos da oposição.
O Governo fez então a proposta que os muitos acharam indecente: que sejam integrados noutros serviços da Administração Publica. (Até o Ministério da Cultura já veio propor integrar 700 desses profissionais nos quadros dos organismos tutelados pelo Ministério da Cultura, como museus e palácios, sendo que assim estes docentes terão oportunidade de progredir noutra carreira). Em rigor, nem podemos falar de 2.500 professores, pois 10% desses profissionais estão impedidos de dar aulas devido a doenças oncológicas ou degenerativas e, quanto a estes, o Ministério decidiu que a escolha de uma nova carreira na função pública é opcional, sendo que podem continuar a trabalhar na escola.
Para além desses, só este ano lectivo, estiveram outros 3.000 docentes sem poderem dar aulas por terem estado incapacitados temporariamente. Contudo estes não estão abrangidos pela proposta; afinal trata-se de uma "incapacidade temporária"...
A proposta parece de elementar bom senso. Alguém pode considerar justo que estes Srs. "professores" que não trabalham, que não estão a fazer qualquer outra função útil para a sociedade, sejam remunerados como os seus colegas que efectivamente exercem e, como se não bastasse, ainda possam progredir automaticamente nas carreiras em função da antiguidade? Estamos a esquecer que esses ordenados são pagos por todos os contribuintes?
Os sindicatos entraram na habitual histeria. O Sr. Paulo Sucena disse cobras e lagartos da proposta. Sim, não fosse o Ministério meter-se também com as centenas de professores que estão em tempo integral a serviço dos sindicatos e que não leccionam há décadas, como parece ser o caso dele...enfim. Felizmente parece que a coisa vai para a frente. Esta gente não percebe que se a imagem deles está a ficar "pelas horas da morte" deve-se a estas e outras reacções sem qualquer bom senso.
Eu conheço uma professora que este ano lectivo fez parte dos 3.000 declarados incapacitados temporariamente. A Sra. em causa tentou boicotar por todos os meios (inclusive pressionando os próprios colegas) o funcionamento do prolongamento do horário do 1.º ciclo. A tentativa de pressão sobre os pais, então, foi indecorosa, chegando a ameaça-los de que se algo acontecesse às crianças entre as 15h e as 17h
A Sra. foi para casa. Quando eu soube ainda ponderei fazer ou não queixa dela. Afinal a baixa era fraudulenta. Mas rapidamente percebi. Qual queixa, qual quê...antes ela a enganar os contribuintes portugueses (assim como assim, era só mais uma) do que ter aquela pessoa na escola a "ensinar" duas dezenas de criancinhas que tinham todo o direito a melhor companhia. Assim como assim achei que a baixa psiquiátrica lhe assentava que nem uma luva...e optei por livrar as 20 criancinhas do martírio.
Em 16 meses deste novo Ministério da Educação, muita coisa já mudou no sistema educativo.
Nem professores, nem pais, nem políticos, nem os alunos (os que já têm maturidade para fazer destes juízos), podem negá-lo.
Eu sou uma mãe e E.E . satisfeita com quase todas as medidas introduzidas por este Ministério. E, porque não encontro muitos espaços onde possa dar o meu contributo (relatarei histórias passadas em vários Conselhos Pedagógicos e Assembleias de Escola onde já participei), decidi fazer este blog. Vou explicar as razões do meu contentamento...numa época em que "falar bem" das mudanças que estão a ocorrer nas nossas escolas tornou-se um perigo para a saúde...se o fizermos rodeado de alguns professores.
Esclareço que tenho cor política, que tenho formação ideológica, sim senhor. O que mais me surpreende neste processo todo, no que à minha pessoa diz respeito, é que estou a aplaudir um Ministério de uma cor política que nunca foi a minha...Porquê? Porque estou perfeitamente convencida das vantagens que estas medidas já trouxeram e vão continuar a trazer para a Escola dos nossos educandos. São estas razões que me proponho explicar.
debate nacional sobre educação