Quarta-feira, 19 de Julho de 2006
Há pouco tempo, num net passeio, encontrei um professor muito indignado com o trabalho administrativo dos professores e o estado da tecnologia nas nossas escolas públicas.
- Dizia o Sr. que era inadmissível a existência dos livros de actas, "que fazem perder imenso tempo ao professor!";
- Que era inadmissível a existência da "chamada" no inicio da aula, que "faz perder imenso tempo ao professor!", sendo que devia ser substituida por um sistema de cartões... (boa!);
- Que era inadmissível a existência do livro de ponto, "que fazem perder imenso tempo ao ao professor!", sendo que devia ser substituido por um programa informático;
- Que são inadmissiveis as cartas manuscritas aos encarregados de educação, "que fazem perder imenso tempo ao professor!", sendo que deviam ser substituidas também por "um sistema de gestão documental"! (eheheh)
- Que era inadmissível os professores terem de produzir e corrigir micro-testes, "que fazem perder imenso tempo ao ao professor!", quando um sistema informático é capaz de o fazer perfeitamente.
Ahahahahahahahah!Cá em casa adorámos: foi uma gargalhada pegada!
Nota: Este post tem uma enorme lacuna: não expliquei porque é que cá em casa achámos “tanta graça” ao texto do professor em causa. Para quem achou que eu podia ser avessa às novas tecnologias (não sou, muito pelo contrário!) leia aqui na resposta que dou a um comentário, as razões que motivaram a risota...
sinto-me:
De
floreca a 1 de Setembro de 2006 às 07:57
E tem toda a razão!
Vou dar um exemplo, que se calhar quem está de fora não entende: actas.
Por vezes temos actas enormes para fazer e não é esse o problema. Tomamos apontamentos, chegamos a casa passamos tudo no computador direitinho (eu assim faço), lemos a acta para ser aprovada na reunião seguinte, fazemos as aterações necessárias... e depois passamos tudo à mão para livros ou folhas de actas. Não seria muito mais fácil imprimir, assinar e guardá-las desta forma?
Em algumas situações as escolas já o vão permitindo, mas são raras.
Acredite que, para algumas destas actas, bem precisamos de 2/3 horas para as passar à mão... faz ou não faz perder tempo?
Acredite, também, que já passei muitas das minhas horas de trabalho a escrever cartas para os pais. Para além do conteúdo, igual para muitos, mas escrito à mão nos impressos próprios existentes nas escolas, são envelopes, impressos de registo, etc. Felizmente muitas escolas já começam a entregar todos esses impressos em suporte informático, o que nos facilita bastante a vida.
Os professores, para além da sua função de educadores têm muito (demasiado!) trabalho administrativo para fazer. Muito dele tem de ser feito à mão... por ordens superiores, é claro!
De
uma E.E. a 5 de Setembro de 2006 às 03:36
Cara Floreca ,
Agora é a minha vez de dizer que acho que tem toda a razão no que diz!
Desde logo o meu post tem um enorme defeito: não expliquei porque é que cá em casa achámos “tanta graça” ao texto do professor em causa...
Resumindo em poucas linhas: o riso não surgiu porque seja adversa às tecnologias, muito pelo contrário. Surgiu porque estes ou são exemplos de matérias que podem ser resolvidas pela própria escola, pelos professores, (e se não o são é apenas porque estes não têm capacidade/vontade de modificar as coisas), ou são exemplos um bocado absurdos, desculpe a franqueza.
Vejamos:
1. ACTAS: Há alguma regra que proíba a ajuda do suporte informático? Que eu saiba...não. Há uns meses atrás, a pedido da presidente do Conselho Executivo do Agrupamento onde eu estava presente, numa Assembleia de Escola, representando uma Associação de Pais, coube-me elaborar a acta, pois é hábito alternarmos na feitura das mesmas. Fiquei a saber que antes do uso da informática era normal existirem muitos mais voluntários para fazerem as mesmas actas...a contradição provocou-me estranheza, mas a própria presidente do Conselho Executivo explicou-me que naquela escola a quase totalidade dos professores está no último escalão....à beira da reforma...e estas coisas de teclar à velocidade dos alunos da pré-primária provoca algum pudor e muita perda de tempo...!!!!!
2. CARTAS: Mais do mesmo. Os órgãos de gestão da escola não podem ser mais pró-activos e tratarem das coisas para que funcionem em suporte informático? Como a Floreca diz, já se faz assim em algumas escolas! Custa um bocadinho, no início, mas que caramba! Com as vantagens que daí advêm não será melhor do que passarem a vida a apontar os dedos aos outros? E os órgãos de direcção da escola, não são eleitos pelos professores? Então, se não são competentes, haja mais candidatos, sejam eleitos, e mudem as coisas! Na Universidade tive um professor que dizia (e escrevia) que somos dominados pelo principio da INÉRCIA; o mesmo era dizer que em princípio nada se muda. Eu acho que ele tinha toda a razão. E por mim falo. Mas também não me queixo daquilo que sei que também me cabe modificar. (E, claro, há outra vez o problema dos tais professores para quem um sistema de gestão documental seria chinês...)
3. CHAMADA no início da aula: Caramba...tantas escolas já hoje funcionam com cartões magnéticos. Os pais até escolhem a ementa que o filho vai comer no dia seguinte pela Internet! Os rapazes e raparigas não têm de transportar dinheiro. Calculo que tecnologicamente não seja complicado. Mas quero que o professor dos meus filhos OLHE para eles, DIGA o nome deles, nem que seja quando faz a chamada! Nem me digam que isso é trabalho administrativo! E não acredito que daqui venha muito mal para o ensino...
4. Correcção de micro-TESTES: O professor autor do texto dizia que se tratava de trabalho administrativo. Ora, quando a feitura e a correcção de um teste é qualificada de trabalho administrativo...acho que está tudo dito, não é? Como posso deixar de me rir? Isto já para nem falar, novamente, na quantidade de professores incapazes de lidar com estes instrumentos de trabalho. Na minha opinião, seriam eles próprios a rejeitar a ideia. Mais umas dores de cabeça!

De Joana Silva a 6 de Setembro de 2006 às 10:40
Em Junho, Walter Lemos disse que os maiores problemas do plano tecnológico não estão com a aprendizagem pelas crianças, mas, muitas vezes, com a alfabetização tecnológica dos professores. Mais novidades? Quem é que não sabe que os alunos sabem muito mais de tecnologia do que a maioria dos professores? Escrever cartas ao computador?? Ainda temos de caminhar muito...
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