Quantos de nós conhecemos indivíduos recheados de habilitações académicas, mas que depois verificamos serem uns estafermos no seu dia-a-dia? Não participam nas reuniões de condomínio, não sinalizam as manobras que fazem na estrada, não têm autocontrole sobre os seus ímpetos, não têm respeito sobre as opiniões nem os espaços/direitos dos outros, não participam na vida politica (nem que seja ao menos cumprindo o dever/direito de votar), etc. Isto só para dar alguns exemplos dos que mais me aborrecem...
Para mim “Educar” é um processo de transformação do animal humano num cidadão pleno. Assim: quem educa é a sociedade.
Educa através das entidades especializadas (escolas, universidades) e através das palavras dos pais e das acções dos pais.
Mas também educa através de todos os seus membros, em todas as latitudes e longitudes, a todo o momento.
A sociedade educa através dos livros, das empresas, dos jornais, dos programas de televisão (ai…famosas telenovelas!), da rádio, do desporto, das igrejas, da tortura dos prisioneiros políticos…
Assim, cada um de nós é um professor a serviço da sociedade ou contra ela, em função dos valores estabelecidos. E tal facto é óbvio: o homem é um ser social e a sua vida não tem sentido se não estiver inserida na sociedade.
Todos somos responsáveis pela sociedade que temos, portanto.
Percebo, por isso, quando alguns professores vêm para a praça pública reclamar que se espera da escola mais do que aquilo que ela pode dar. Sem dúvida. Os professores não têm uma varinha mágica que eduque para o ambiente, a sexualidade, a alimentação, a prevenção de incêndios, para o direito à diferença, para a não discriminação, para a democracia. (Alguns deles são mesmo a antítese dessa “educação”: veja-se os fóruns de professores que há na Internet e a forma como eles se insultam mutuamente sem qualquer decoro…)
O que já não percebo é que sejam eles, professores, os primeiros (de uma forma mais encapotada ou mais óbvia, conforme a sofisticação) a sacudir a água do capote quando lhes é imputada alguma responsabilidade.
O que não percebo é que não queiram aceitar a evidência de que também são responsáveis pelos resultados dos alunos. Que não percebam que, como nós, em qualquer actividade, são (também) responsáveis pelos resultados. Que não percebam que É PRECISO PENSAR A EDUCAÇÃO.
Que não percebam que a sua avaliação, séria, apenas vai favorecer os que são bons e penalizar os que são maus, e que isso só pode ser bom para a classe e para todos.
E não venham dizer que é sobre “esta avaliação” que estão contra. Os professores querem viver sem NENHUMA AVALIAÇÃO. Que sabedoria esta a destes senhores…que está acima de todos e de qualquer instância.
Todos nós sabemos que os professores são os primeiros a quererem correr com os pais da escola, por exemplo. Basta ver o que dizem entre eles, a chacota que fazem em alguns blogs sobre os pais menos habilitados academicamente, o folclore da simulação de “cartas de avaliação” cheias de erros ortográficos.
Eu sei que pais que não sabem ler nem escrever podem ser excelentes educadores. Estes Srs. “professores” não sabem isso. E sei interpretar português, pelo menos o suficiente para perceber que na proposta da Sra. Ministra não se trata disso, de "cartinhas". Eles não interpretam o português, eles reformulam o que está escrito (e muita comunicação social vai no jogo) conforme o que lhes dá mais jeito para a acção de propaganda.
O que não percebo é o MEDO. Falta muita cultura democrática a esta classe. Não aceitam ser criticados. Não querem ser postos em causa. (E eu que educo as minhas crianças a porem tanta coisa em causa…)
De Aventurina a 28 de Julho de 2006 às 22:32
Afinal de contas que sabe a sra acerca do que se passa nas escolas? É FALSO E MENTIROSO QUANDO AFIRMA que os professores fazem chacota do enc. de educ. menos alfabetizados, creio que esses sim ssabem dar uma melhor educação aos filhos do que muitos que puxam pelos galões académicos! Tem alguma prova do tal absurdo que refere? É grave!
Mais uma vez lhe pergunto, que sabe acerca do que é trabalhar com jovens adolescentes, do que lhes é incutir saber, valores, conceitos de vida....?
A petulância paira no ar das várias pessoas que querem o pescoço dos profissionais que tanta responsabilidade têm na sociedade, dos muitos que se empenham em formar jovens capazes de enfrentar o seu quotidiano! É o desrespeito por uma das profissões mais dignas! Sabe ( deve saber, já que sabe tudo!) , que os profs são educadores, pais, psicólogos, irmãos, assistentes sociais, etc, etc, etc...
BEM HAJAM OS PROFESSORES
De
uma E.E. a 29 de Julho de 2006 às 10:23
Exma. Sra.,
É com muita pena minha, acredite, que tenho de perguntar-lhe se o seu comentário se deve às faltas de apoio que teve do Ministério durante a sua vida de estudante e, que portanto a levaram a não saber interpretar simples redacções – como são os meus curtos posts – em Português, ou se por outro lado é uma espertalhona, até percebeu muito bem o que eu disse…mas decidiu mandar um bitaite por pura má fé… (?)
É que não há nas minhas palavras qualquer sinal de desrespeito contra os professores: há críticas (veja as boas definições para “críticas” que existem em qualquer dicionário) quanto aos discursos e às atitudes menos dignas de alguns professores.
Chama-lhe desrespeito? Eu chamo-lhe contributo, opinião, exercer cidadania, exercer a democracia, aceitar as responsabilidades.
Se reler bem o post onde deixou a sua opinião, vai com certeza entender, por maiores que sejam as suas dificuldades, que digo que todos somos responsáveis pela sociedade em que vivemos. E não dou nenhum conselho acerca de como “do que é trabalhar com jovens adolescentes, do que lhes é incutir saber, valores, conceitos de vida...”
Quando diz que é FALSO E MENTIROSO a minha afirmação de que alguns professores fazem chacota dos pais menos habilitados academicamente…recomendo-lhe uma busca pelos vários blogs de professores mantidos na net, alguns com a contribuição de dezenas de colegas seus. Vai ser muito fácil encontrar. Deixo-lhe aqui apenas um exemplo:
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Carta de uma educadora Ao concelho executibo da escola Á dos roubados 2300 -564 Lavoura de cima
Portugues: dois pontos, é aplicada e gosta muito dos poemas mas isso na mata a fome a ninguém, eu cá axo que essa disciplina debe ser acabada, nos sabemos muto bem falr e escreber por isso e perca de tempo.
Ingles: três pontos, axo muto bem esta disciplina, e muito educatiba e o me Zé tame sempe a dizer "fuc iu", o que quer dizer "gosto muto de ti mãe", lindo.
Frances: dois pontos, isto dos aveces já foi tempo, agora o pessoal esta mais virado para a Alemanha lá ganhase muto mais assim aprender esta coisa é dispenssavel, devia acabarse com ela.
Historia: Eu cá quando andaba na escola gostaba muto de istoria, isto e que era cada um contaba uma istoria, ainda me lembro daquela do ti badelhas, quando ele caio com o burrico e lá se foram as nespereas aquilo é que foi rire as gargalhadas, gosto muto quatro pontos.
Geografia: O me Zé gosta muto ele ate sabe onde se faz a coca, e na colômbia, ele bebe muta coca cola, eto lhe sempre a dizer Zé isso fazte Mali mas ele na me oube, quatro pontos.
Matematica: um ponto, esta disciplina devia acabar o me Zé chega sempre a casa com dore de cabeca já na sei que lhe dé pras dores, e muto violenta a disciplina e o sacana do prufessorê até quer que o miudo traga trabalho pra fazer em casa vejam so, como se o cachopo já na tivesse cosas pra fazer.
Ciencias-naturaes: tres pontos, o me Zé ate gosta disto ele aprendeo que os sapos e as rans tamem fazem o amor, foi lindo ele a correre atraz da irmã pra lhe mostare como se faz, bem o me marido foi dar com ele atraz da ovelha jaquina foi uma sorte, na fosse o raio do gaiato apanhar a tal da siva e era mau.
C. Fisica e quimicas: um ponto, atao na e que o raio do prufessorê me queimou as pestanas do me Zé, o cachopo chegame a casa todo qemadinho das pestanas, isto e um prigo esta disciplina devia acabare e mai nada.
Ed. Fisica: cinco pontos, axo muto bem fazer o me Zé levantarse da cadera e correre, ate proque ca em casa ele esta sempre a correre atraz da irmã aquilo e que são os dois marotos sempre na brincadera, outro dia ate ele já estava com as calcas na mão e ela a correre a frente dele mas o sacana consegio memo assim apanhar a mosoila, ele e rápido.
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Este é apenas um exemplo dos muitos que por aí andam, alguns ainda mais infelizes. Estão em espaços de profs identificados enquanto tal; como um motor de busca vai encontrar bastantes.
CONCLUINDO COM O MAIS IMPORTANTE: CONCORDO QUANDO DIZ QUE É UMA DAS PROFISSÕES MAIS DIGNAS…TAMBÉM POR ISSO HÁ-DE CONCORDAR COMIGO QUE MUITOS DOS SEUS COLEGAS É QUE TÊM ATITUDES MENOS DIGNAS, QUE ELES É QUE (INFELIZMENTE) SE DESRESPEITAM!
De Aventurina a 31 de Julho de 2006 às 00:48
Uma coisa é certa: a Sra. com este blog quer, podendo até afirmar, como o tem feito ( até parece que se quer redimir de algo ), que "nada tem contra os professores", demonstrar uma certa "raivinha " para com os professores, mesmo que tal seja inconsciente (parece-me não ser ).
Porque não um blog de utentes do serviço público de saúde hem?
Cumprimentos
De
uma E.E. a 31 de Julho de 2006 às 09:53
Cara “Aventurinha”:
As minhas afirmações de que “nada tenho contra os professores” vieram na sequência de algumas reacções aos meus posts. Gosto de ser clara nos meus propósitos e tentei esclarecer “as dúvidas”. Pode querer que a partir de agora tal pensamento já não me vai mais ocupar, pois sobre essa matéria entendo já ter explicado tudo.
O seu comentário demonstra uma certa "raivinha " para com os encarregados de educação, mesmo que tal seja inconsciente (parece-me não ser)… ou a sua “raivinha” é contra mesmo qualquer pessoa que não concorde com as suas posições, independentemente do assunto sobre o qual tratam?
Quanto a um blog sobre utentes do serviço público de saúde, pode querer que adorava que alguém o fizesse. Mas, felizmente para mim, não é um assunto que me motive nem um bocadinho em comparação com este. E sabe porquê?
Eu explico-lhe sumariamente e claramente:
Porque entendo que as actuais questões que se debatem na educação são as mais importantes para o futuro do país. Porque entendo que pais e professores podem fazer a diferença. Porque entendo que pela primeira vez alguém está a atacar os vírus e as bactérias de um sector fundamental da acção do Estado. Porque entendo que todos devemos dar um contributo para que não ganhem as posições corporativistas de quem se sente diminuído nos seus privilégios. Porque entendo que a escola pública ainda tem solução e não quero fazer parte dos pais que têm de recorrer ao ensino privado, pois não é para isso que eu pago os meus impostos.
Espero que agora tenha percebido.
Cumprimentos,
De Aventuria a 31 de Julho de 2006 às 17:59
Minha cara E.E
Acredite que não tenho qualquer raivinha " aos enc . de educação, pelo contrário sempre procurei que os enc . de ed. dos meus alunos fossem interventivos e participassem na vida escolar dos seus educandos, o que infelizmente nem sempre ocorria, pois como deve saber, somente uma minoria participa na vida escolar dos seus educandos. Desses, sim, tenho eu alguma raivinha ", pode acreditar.
Mas não estamos aqui para um duelo de palavras para ver quem ganha.. não é essa a minha intenção...
Porém, bem sabemos que numa guerra o mais fraco perde sempre e, neste caso, o fraco é sem dúvida a classe docente, agora estou a reflectir sobre a situação da educação em geral e não em relação à sra , propriamente dita. Gostava que lesse uma entrevista que saiu este domingo na revista do jornal de notícias, acerca da situação da escola e da classe docente.
E então porque não um blog a criticar o sistema de saúde pública? Ou então a criticar o sistema judicial, esse sim ... ufa é de bradar aos céus!!
De
uma E.E. a 1 de Agosto de 2006 às 13:19
Cara Aventuria,
Não tive oportunidade de ler a revista do J.N. neste Domingo, mas vou ver se ainda a encontro!
Quanto aos encarregados de educação que não participam na vida escolar dos seus educandos, nem me fale…tem ideia da desilusão que é gastarmos imenso tempo a preparar uma reunião de pais, convencidos da imensa utilidade da mesma e da ajuda que podemos dar para que tudo funcione melhor (tenho esta mania de achar que a nossa escola também é da responsabilidade dos pais…) e depois poucos aparecem? Enfim… olhe que também sinto uma certa “raivinha deles”. Acho que me compreende. E se há pais que não podem comparecer por razões perfeitamente atendíveis, há outros que (acredite que já me o disseram na cara…) não aparecem porque têm uma aula de aeróbica naquele horário! Enfim. Mas depois querem “tudo feito”…
Por ultimo: não diga que a classe docente é a parte mais fraca, pois nem estamos numa guerra, nem nada se faz sem os professores. Apenas somos muitos com opiniões diferentes, mas isso é bom para a democracia, digo eu.
Aceite os meus melhores cumprimentos e, se fizer um blog sobre a justiça ou a saúde diga-me, que eu lá estarei a participar!
De Cidadã consciente a 29 de Julho de 2006 às 12:20
Ex.ma Senhora,
Disse, e muito bem, que quem educa é a sociedade. Mas logo abaixo, as suas críticas são só para os professores. E os pais, que trabalham todo o dia e quando chegam a casa não querem saber dos filhos? Que não lhes impõem a ordem? Sobra para os professsores, que em vez dos 1, 2 ou 3 filhos que a senhora possa ter, têm aos 27 ou 30 de uma vez só.
Se eu acreditasse em tudo que vem na televisão, também acreditava que os professores nada fazem e que são um grupo privilegiado. No entanto, quem vive de perto com a realidade de ser professor, através de familiares e amigos, sabe que não há nada mais longe da realidade.
Como em todas as profissões, há bons e maus profissionais. E infelizmente basta haver um mau profissional numa escola com 80 professores para estarem todos no mesmo saco. Basta um faltar que são todos faltosos.
E quanto a avaliação, informe-se acerca da quantidade de relatórios que tem que fazer no final do ano, as inspecções que fazem e as satisfações que têm que dar ao Conselho executivo.
Os resultados dos alunos são frutos que ele colhem do resulado do ano lectivo. Verifica-se que os alunos estão cada vez menos empenhados e cada vez mais mal educados. ANtigamente havia pautas com alunos com avaliação final de 5 a todas as disciplinas. Hoje ter um 4 chega-lhes (comentário dos próprios alunos).
Resta-me desejar-lhe uma boa aventura educativa e que seja mais conscientes sobre aquilo que fala.
É uma profissão desgastante que nos merece todo o respeito e que a cada ano que passa é cada vez mais mal tratada.
De
uma E.E. a 30 de Julho de 2006 às 04:56
Exma. Sra.,
Agradeço imenso o seu comentário.
A referência aos pais, que somos todos, incluindo professores, está lá…e é como diz: existem pais que não querem saber dos filhos e infelizmente, até pior do que isso! Também por isso afirmei que concordo quando
dizem que esperamos mais da escola do que aquilo que ela pode dar…
Pessoalmente não espero que a escola venha substituir nenhuma das responsabilidades que me cabem, pelo contrário, mas também não vou aceitar tudo o que o sistema de ensino me atira de bandeja, sem pestanejar, sem um olhar crítico, como se fosse uma heresia falar dos professores, que não se querem sagrados nem consta que saibam fazer milagres.
Quero dizer-lhe que o seu comentário veio lembrar-me uma coisa que já tinha pensado fazer; escrever sobre os bons profissionais e, por várias razões:
1.º Pelas saudades que tenho de alguns professores que tive
(veja o que escrevi na “Adenda ao 1.º post”, se faz favor); 2.º Pelos amigos que tenho professores e que foram certeiros na profissão escolhida, pois não lhes falta vocação nem competência; 3.º Por familiares que tenho professores, sendo que um já foi director de um dos melhores e maiores colégios do País; 4.º Por causa de alguns professores do agrupamento em que estou envolvida enquanto encarregada de educação.
Apenas o tempo não dá para tudo e não era essa a finalidade deste blog. Como sabe, a finalidade deste blog (está expressa no 1.º post) ainda me vai dar muito que escrever. Felizmente! Há muito boas razões para aplaudir este Ministério.
Por agora resta-me afirmar que não formulo os meus juízos “por tudo o que vem na televisão”, como diz. Convivo de perto com essa realidade. Não tenha dúvidas. É mesmo por conhecer de perto essa realidade e por conhecer os bons, que os maus profissionais me desgostam bastante. Sabe…o direito à indignação? Ainda há instantes encontrei na net um “texto” de um professor identificado (nome, escola, fotografia dos filhos e tudo!) e que, às tantas, quando falava na avaliação, dizia o seguinte e passo a citar: “Regras na avaliação de professores: se o pai do puto dá nota positiva e a mãe dá nota negativa, o amante de um dos dois desempata”. Expliquei-me? Acha que alguém o pode levar a sério? É pedir muito que os nossos educandos tenham professores “à séria” na escola e palhaços no circo? Eu acho que não. Deixo-lhe um desafio: se a profissão de professor é cada vez mais mal tratada, como diz, já pensou se não será por culpa de “colegas” como esse? Ou seja, se a razão de tal mau trato não virá de dentro da classe e não de quem está de fora? Olhe que eu acho que é. Pense nisso.
Quanto à actual avaliação, penso que não tem razão alguma. Assim, igualmente pegando nas suas palavras, pergunto-lhe: se é verdade que há bons e maus professores e, por outro lado, a avaliação que têm já é muito exigente (tudo como diz), explique-me porque é que nenhum até hoje teve nota negativa numa avaliação…estou aberta a perceber isso.
Melhores cumprimentos,
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