Segunda-feira, 4 de Setembro de 2006
Não resisto a divulgar aqui o programa AFS - Estudar um ano no estrangeiro. É uma ideia fantástica para os petizes entre os 15 e os 18 anos! Durante um ano os jovens têm a oportunidade de viver noutro país - que pode ir desde o Japão à Nova Zelândia - e estudar numa escola secundária, vivendo com uma família de acolhimento.
Há uns tempos encontrei na net um blog de uma miúda de 16 anos que estudava nos Estados Unidos. Li tudo de rajada, impressionada com as experiências extraordinárias que este tipo de vivência pode trazer a alguém tão jovem.
Não tenho dúvidas de que a visão do mundo destes jovens, que participam no programa, nunca mais será a mesma. As inscrições terminam a 15 de Fevereiro. Se quiser saber pormenores veja em http://www.intercultura-afs.pt/
sinto-me:
Terça-feira, 29 de Agosto de 2006
Ainda estamos de férias, mas tinha de vir aqui contar umas "curiosidades". Ontem à noite jantámos com um casal de suecos e um casal de franceses. Sendo que a mulher francesa era professora e todos temos filhos, foi inevitável a conversa acerca da escola.
Nunca tive tanta dificuldade para fazer alguém entender o que eu dizia. E garanto-vos que o problema não estava nos idiomas falados!
Tentava eu explicar as polémicas resultantes da introdução do prolongamento do horário escolar no 1.º ciclo do ensino básico, assim como as polémicas sobre as aulas de substituição...
Foi tremendo.
Não sendo eu uma "especialista" desta área, nem uma profissional da educação (sim...que as duas coisas, decididamente, não se confundem!), pois sabem os caros leitores que nesta matéria sou apenas uma Encarregada de Educação, nunca me informei acerca de como se passavam as coisas noutros países...Se eu soubesse onde me estava a meter teria ficado calada. Acontece que passei o tempo a tentar fazer entender O PORQUÊ da reacção dos professores a estas medidas...e não devo correr muitos riscos de me enganar se disser que foi em vão, pois nenhum entendeu como estas mudanças não poderiam ser pacificas.
Já perceberam, portanto, que fiquei a saber que nos países deles estas duas realidades são indiscutíveis! O prolongamento, por exemplo, é até às 18 horas e há tanto tempo que existe que eles nem sabiam responder quando começou. A seguir às aulas, as crianças têm desporto, tecnologia, artes plásticas... Senti-me um bocadinho "mulher das cavernas" por no meu tempo a escola publica deixar-me sair do seu espaço quando eu muito bem entendia (coisa que, felizmente, já não se passa hoje), assim como por os nossos filhos, até esta ministra da educação, serem expulsos da escola a partir das 15 horas , como se os pais não trabalhassem, como se não tivessem de trabalhar...
E porque este post apenas trata de curiosidades, sabiam que em França os professores apenas ganham 12 salários por ano? Eu não. Ou seja: que não recebem 13.º mês, nem subsídio de férias? Sabiam que têm reuniões com os E.E. trimestralmente, das 17h 30m às 21h 30m (!), para que não colidam com o horário profissional dos pais? E que até ao 9.º ano (o equivalente ao nosso 9.º ano, melhor dizendo) o Director de Turma tem reuniões com os pais ao Sábado de manhã (!), pela mesma razão, com o objectivo de dar os boletins das notas no final do trimestre e falar individualmente acerca dos alunos? E voltando aos salários, fiquei a saber que um professor com 12 anos de serviço e 18 horas semanais aufere 2 mil euros... Ora, sabendo que só têm 12 salários por ano, foi a minha vez de me encher de orgulho nacional e afirmar que ganham mais cá... Ainda por cima, trabalham no feriado do Corpo de Deus e não é pago!!!
Chega de escrita e vou apanhar sol com os petizes. Boas férias!
sinto-me:
Domingo, 30 de Julho de 2006
Na sequência do comentário da leitora “cidadã consciente” publicado meu post “Educação e Cidadania andam de mãos dadas” decidi, conforme lhe digo na minha resposta, escrever sobre os bons profissionais, pelas razões que enunciei então, na resposta a esse comentário.
Por isso publico aqui, em homenagem aos professores fantásticos que tive, aos outros que no mesmo local refiro e a todos os que andam por aí e que espero que sejam muitos… uma crónica assinada pelo Prof. Doutor Daniel Sampaio, Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, e que penso dispensar mais apresentações.
SOU UM PROFESSOR SÓ
Meu velho:
Desculpa estar sempre a mandar e-mails com as chatices da escola, mas és a única pessoa com quem posso desabafar sem problemas. Estou numa escola que conheces e, pelo que descreveste, pouca coisa mudou. A única diferença é que agora somos obrigados a estar mais horas e a confusão é grande. Imagina que se faz fila à porta do CE e que nos mandam dar aulas de substituição nas escolas do agrupamento, incluindo a do primeiro ciclo! Muitos colegas andam revoltados e os alunos não aceitam com facilidade um professor que não conhecem.
Eu vou fazendo pela vida. Não sou capaz de alinhar com os protestos, fiz greve apenas para não dar nas vistas; mas também sinto que as coisas precisam de ser melhoradas e por isso escrevo. No teu último mail recomendavas que me concentrasse na função actual do professor. Podes crer que fiz o TPC e aqui vai.
Sabes, António, sempre desejei ser professor. Quando era criança, inventava aulas a partir de um quadro preto que o meu Padrinho me tinha dado: explicava os meus próprios trabalhos a alunos imaginários, conversava com eles e até lhes ralhava. Fui para Estudos Portugueses porque sempre adorei ler e queria partilhar esse gosto com gente mais nova, depois fiz muitas acções de formação (com e sem créditos) para ver se ensinava melhor, estou na terceira escola e não quero desistir. Sabes o que não quero abandonar? O meu gosto em estar com crianças e jovens, nas diversas situações que ocorrem numa escola. Gosto de dar aulas, sobretudo quando consigo transformar a turma num grupo de trabalho e ponho toda a gente a participar. Adoro colaborar com a Associação de Estudantes e, bem ao contrário de ti, até tenho paciência para ouvir os pais, que recebo muitas vezes. Tenho muitas dificuldades, como sabes: os alunos têm poucas regras, sabem muito pouco e só falam em 'curtir', por isso às vezes me interrogo sobre o caminho a seguir. Com franqueza te confesso: sinto-me um professor só, às vezes quase um ET no meio da confusão, mas quero que me entendas. O meu lema é aproveitar TODAS as oportunidades para estar com os alunos, continuo com a ideia firme de que tenho coisas para lhes dizer e de que eles terão o maior gosto em estar comigo. Detesto quando os meus colegas (até tu) se põem a dizer mal de 5 mais novos, que não têm maneiras, que são ordinários ou desmotivados que parecem loucos. O nosso papel, a essência da nossa profissão não é justamente ajudá-los a crescer, escutá-los de forma activa, evitai que deixem a escola ou impedir que a frequentem sem sucesso? Posso dormir descansado quando cerca de 30% dos alunos da minha escola não completam o Secundário?!
Meu caro, não posso concordar com os colegas que dizem que estar com miúdos pequenos é ser 'ama-seca' ou 'entertainer'. Para mim, é uma ocasião que não posso perder: quero ouvi-los sobre as suas questões, auscultar os seus pontos de vista, ajudá-los a estudar, brincar com eles de forma organizada. No dia em que me convencer que os alunos do meu agrupamento, de todas as idades, se recusam a estar comigo, abandonarei a escola, porque de facto o meu ofício deixou de fazer sentido.
Estou de acordo que muito há a fazer para melhorar a confusão actual. As coisas precisam de ser mais bem explicadas e sobretudo melhor aplicadas. Mas recuso-me a cruzar os braços e a confessar que não sou capaz de falar com uma sala cheia de jovens desconhecidos. Mesmo que eles não me queiram à partida, não concordo: educar é também dizer não e acredito que tenho muita coisa para lhes dar. Responde depressa.
Um abraço, Hugo.
Esta Crónica foi publicada na Revista XIS, Jornal Público, a 03-DEZ-2005, e pode ser lida aqui.
sinto-me:
Quarta-feira, 26 de Julho de 2006
Quantos de nós conhecemos indivíduos recheados de habilitações académicas, mas que depois verificamos serem uns estafermos no seu dia-a-dia? Não participam nas reuniões de condomínio, não sinalizam as manobras que fazem na estrada, não têm autocontrole sobre os seus ímpetos, não têm respeito sobre as opiniões nem os espaços/direitos dos outros, não participam na vida politica (nem que seja ao menos cumprindo o dever/direito de votar), etc. Isto só para dar alguns exemplos dos que mais me aborrecem...
Para mim “Educar” é um processo de transformação do animal humano num cidadão pleno. Assim: quem educa é a sociedade.
Educa através das entidades especializadas (escolas, universidades) e através das palavras dos pais e das acções dos pais.
Mas também educa através de todos os seus membros, em todas as latitudes e longitudes, a todo o momento.
A sociedade educa através dos livros, das empresas, dos jornais, dos programas de televisão (ai…famosas telenovelas!), da rádio, do desporto, das igrejas, da tortura dos prisioneiros políticos…
Assim, cada um de nós é um professor a serviço da sociedade ou contra ela, em função dos valores estabelecidos. E tal facto é óbvio: o homem é um ser social e a sua vida não tem sentido se não estiver inserida na sociedade.
Todos somos responsáveis pela sociedade que temos, portanto.
Percebo, por isso, quando alguns professores vêm para a praça pública reclamar que se espera da escola mais do que aquilo que ela pode dar. Sem dúvida. Os professores não têm uma varinha mágica que eduque para o ambiente, a sexualidade, a alimentação, a prevenção de incêndios, para o direito à diferença, para a não discriminação, para a democracia. (Alguns deles são mesmo a antítese dessa “educação”: veja-se os fóruns de professores que há na Internet e a forma como eles se insultam mutuamente sem qualquer decoro…)
O que já não percebo é que sejam eles, professores, os primeiros (de uma forma mais encapotada ou mais óbvia, conforme a sofisticação) a sacudir a água do capote quando lhes é imputada alguma responsabilidade.
O que não percebo é que não queiram aceitar a evidência de que também são responsáveis pelos resultados dos alunos. Que não percebam que, como nós, em qualquer actividade, são (também) responsáveis pelos resultados. Que não percebam que É PRECISO PENSAR A EDUCAÇÃO.
Que não percebam que a sua avaliação, séria, apenas vai favorecer os que são bons e penalizar os que são maus, e que isso só pode ser bom para a classe e para todos.
E não venham dizer que é sobre “esta avaliação” que estão contra. Os professores querem viver sem NENHUMA AVALIAÇÃO. Que sabedoria esta a destes senhores…que está acima de todos e de qualquer instância.
Todos nós sabemos que os professores são os primeiros a quererem correr com os pais da escola, por exemplo. Basta ver o que dizem entre eles, a chacota que fazem em alguns blogs sobre os pais menos habilitados academicamente, o folclore da simulação de “cartas de avaliação” cheias de erros ortográficos.
Eu sei que pais que não sabem ler nem escrever podem ser excelentes educadores. Estes Srs. “professores” não sabem isso. E sei interpretar português, pelo menos o suficiente para perceber que na proposta da Sra. Ministra não se trata disso, de "cartinhas". Eles não interpretam o português, eles reformulam o que está escrito (e muita comunicação social vai no jogo) conforme o que lhes dá mais jeito para a acção de propaganda.
O que não percebo é o MEDO. Falta muita cultura democrática a esta classe. Não aceitam ser criticados. Não querem ser postos em causa. (E eu que educo as minhas crianças a porem tanta coisa em causa…)
sinto-me:
Terça-feira, 25 de Julho de 2006
Nunca como hoje os sindicatos dos professores estiveram na rua.
Não que não estejam no seu direito. Claro que sim. Formalmente, porque substancialmente, as razões que os levam a protestar, essas, têm muito que se lhes diga...
Há uma coisa sobre a qual eu tenho a certeza absoluta: estes Srs. dos sindicatos, paulo’s sucena’s e companhia’s Lda.”, estão-se nas tintas para os alunos: para os seus resultados escolares, para o enriquecimento dos currículos, para a formação dos jovens enquanto pessoas. Senão veja-se inclusive os exemplos de respeito pelos outros que dão aos alunos, como quando se referem à Sra. Ministra usando expressões como “sorriso de medusa” (termo usado pelo Sr. Paulo Sucena ao referir-se ao sorriso da Ministra). É coisa de educador, é um grande exemplo de urbanidade, não acham?
Na realidade também estão-se nas tintas para os pais: basta ver o calendário que normalmente é escolhido para fazerem as greves. Eu ando farta deles. Mas com isso posso eu bem.
Com o que “já não posso” é com tanta hipocrisia da parte destes “professores” (que nem leccionam) sindicalistas! É que nem todos temos a memória curta…e onde é que estavam os sindicatos dos professores nos últimos anos? Alguém se lembra onde estavam os sindicatos quando, por exemplo, no tempo em que Cavaco Silva era 1.º ministro e Roberto Carneiro o seu ministro da Educação, o ano lectivo nas universidades só teve início no mês de JANEIRO? As “reformas” foram tão boas, os processos atrasaram-se de tal maneira, que os alunos da 1.ª fase só souberam das colocações em JANEIRO! Foi inédito e foi obra, pois não deve ser fácil conseguir agrupar tanta incompetência junta. Alguém se lembra de ver "paulo’s sucena’s e companhia’s Lda.” defender os alunos? A marcar alguma posição? A exigir mais competência?
A verdade é que bastou este Ministério da educação mandar trabalhar os professores um bocadinho mais, e por boas razões, para os sindicatos entrarem numa histeria nunca antes vista. O Ministério fê-lo no prolongamento do horário no 1.º ciclo (apenas mais 3 horas semanais foram suficientes para esta celeuma) e fê-lo nas aulas de substituição. Pretende fazê-lo relativamente às faltas (é vergonhoso como os professores faltam) e pretende que os profs incapacitados sejam aproveitados para trabalhar (afinal recebem o seu salário, pago por todos nós, é justo que produzam). Estas são as verdadeiras razões que movem os protestos dos sindicatos na luta contra este Ministério.
Aliás, pergunto-me para que precisaram estas instituições de centenas de "professores" nas suas fileiras, que sobem na carreira de professor mas dão tantas aulas como eu!
Quem pertence à classe dos professores e já não faltava, quem já dava aulas de substituição, quem já permanecia na escola o tempo devido, quem gosta do que faz (pois a falta de motivação de que muito professores falam é devido a terem escolhido uma carreira de que não gostam), esses não se queixam, nem alinham no jogo sujo muitas vezes feito por esses sindicatos. E existem muitos desses. Nas escolas onde eu participo, através da Assembleia de Escola e através do Conselho Pedagógico existem vários…é uma pena que sejam ostracizados pelos próprios colegas.
sinto-me:
Segunda-feira, 24 de Julho de 2006
Como vamos melhorar a educação nos próximos anos?
O Debate Nacional sobre Educação tem animado vários seminários pelo país fora e a discussão pública continua até ao final de Novembro. (…)
Todos os organismos, instituições ou particulares que queiram dinamizar o debate, promovendo iniciativas locais, estarão a contribuir para a necessária e imperiosa reflexão colectiva que é preciso fazer sobre a Educação.
Saiba tudo em http://www.debatereducacao.pt/dne/
sinto-me:
Sábado, 15 de Julho de 2006
Em 16 meses deste novo Ministério da Educação, muita coisa já mudou no sistema educativo.
Nem professores, nem pais, nem políticos, nem os alunos (os que já têm maturidade para fazer destes juízos), podem negá-lo.
Eu sou uma mãe e E.E . satisfeita com quase todas as medidas introduzidas por este Ministério. E, porque não encontro muitos espaços onde possa dar o meu contributo (relatarei histórias passadas em vários Conselhos Pedagógicos e Assembleias de Escola onde já participei), decidi fazer este blog. Vou explicar as razões do meu contentamento...numa época em que "falar bem" das mudanças que estão a ocorrer nas nossas escolas tornou-se um perigo para a saúde...se o fizermos rodeado de alguns professores.
Esclareço que tenho cor política, que tenho formação ideológica, sim senhor. O que mais me surpreende neste processo todo, no que à minha pessoa diz respeito, é que estou a aplaudir um Ministério de uma cor política que nunca foi a minha...Porquê? Porque estou perfeitamente convencida das vantagens que estas medidas já trouxeram e vão continuar a trazer para a Escola dos nossos educandos. São estas razões que me proponho explicar.
sinto-me: