Blogue de uma Encarregada de Educação

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Terça-feira, 12 de Setembro de 2006

Há algumas coisas que me irritam

Há algumas coisas que me irritam. No meu post “Educação e Cidadania andam de mãos dadas” falo de algumas delas no primeiro parágrafo. Por exemplo, malta que entra nas rotundas sem ligar o pisca-pisca (sinalizar manobras? para quê? para quem?); gentinha que deita lixo para o chão (e quantas não o fazem acompanhadas de criancinhas pela mão!); selvagens que ouvem musica aos gritos sem se preocuparem com o próximo; gente que acha que a Democracia caiu do céu sem que tenha havido gerações a lutar por ela e sem que nós todos sem excepção, todos os dias, não tenhamos também de lutar por ela (embora, felizmente, já de uma maneira diferente); gentinha que come pipocas no cinema ruidosamente; gentinha que acha que os políticos são todos “iguais”, corruptos, mas depois não vota, não participa em nada, não faz a ponta de um corno para dar a sua participação cívica seja em que área for, não paga impostos; etc.

 

Claro que estes exemplos têm a sua escala de importância que não interessa ordenar agora. E até porque a irritação varia não só com a substância do assunto, mas também com o ânimo da aqui autora. Mas encontro nestes exemplos um traço comum: irrita-me a falta de respeito com o próximo. Dentro destes exemplos que considero uma falta de respeito estão aqueles em que me chamam estúpida. Mas calma, não é um “estúpida” qualquer! Fazendo alguma introspecção e dissecando a coisa, percebo que o “estúpida” que me ofende é aquele em que o autor, sendo tão estúpido, nem percebe que me está a chamar estúpida. Passo a explicar. (Podia dar outros exemplos, mas aqui só me interessa falar do que tem a ver com este blogue.)


 

Eu gosto de ler. E, para além de gostar de ler, fui e sou obrigada a ler. Na faculdade li que nem uma moira. E hoje em dia que remédio tenho eu senão ler algumas coisas para me manter actualizada. Por mim passava o dia a ler romances como o Equador, ou Os Maias, mas é impossível. A malta é mesmo obrigada a ler, seja pela profissão, seja pelo folheto do supermercado (há que economizar), seja pelos documentos das Finanças que é necessário preencher para tratar do IMI...

 

Vem isto a propósito das coisas que me irritam. Uma bela tarde, estava eu numa reunião de Conselho Pedagógico interminável (diga-se interminável, porque as/os senhoras/os professoras/es estavam em conversas cruzadas sobre as revistas que tinham na mão e nunca mais se calavam o que fez perder imenso tempo à presidente do Conselho Executivo que teve de dar murros na mesa para mandá-las/os calar e fazer-se ouvir), quando foram distribuídas umas fotocópias de um Despacho Normativo vindo do Ministério da Educação e que era suposto o Conselho Pedagógico conhecer.


 

Eu, que sou curiosa no geral e nesta matéria em particular (fala-se em educação dos meus petizes e sou toda orelhas), esperei ansiosamente que as folhas me chegassem às mãos. Qual não é o meu espanto quando, em vez da célebre página do Diário da Republica ou de uma folha qualquer oficial com os dísticos do Ministério, entregaram-me umas 10 páginas em documento word, cheias de --> setas, cores, letras de vários tamanhos e feitios, dezenas de pontos de interrogação???? e de exclamação!!!!, dezenas de reticências..., dezenas de sublinhados, onde nem um boneco faltava! Pá, digam-me, o que é que acham que eu pensei? Engano nas folhas, só pode ser! Toca de ir ler...o que com o barulho das conversas cruzadas era difícil, mas assim fiz. Bom, uns momentos para respirar fundo e, afinal o que é que era aquilo? Perguntam bem. Segundo o autor do “documento”, aquilo era o Despacho Normativo do Ministério, embora estivesse lá em baixo o nome do elemento do Conselho Executivo que redigiu as folhas. Que paciência. A criatura tinha redigido um “resumo” do Despacho, imagino eu para ser “explicativo”, assim como se nós fossemos todos muiiiito burros e ele a mente privilegiada que nos ia trazer a luz. Com muita calma ainda esperei algum tempo para perceber se iam distribuir o original, o verdadeiro despacho, que era suposto ficarmos a conhecer e, assim não perderia tempo a decifrar tanto adjectivo e tanta exclamação...mas nada. Era só aquilo e tal facto não parecia preocupar ninguém.


 

Conclusão: “li” as 10 folhas A4 completamente escritas (de um Despacho que vim depois a conhecer com apenas uns 8 artigos) e não percebi rigorosamente nada. Aplaudi em silêncio a preguiça dos meus neurónios que teimavam em fazer greve, como se se recusassem, por uma questão de principio, a fazer o esforço inútil de tentar decifrar os gatafunhos e dissessem para a dona: - pá, não nos faças trabalhar para entender o impossível...

 

Devo ainda contar que quando chegou a minha vez de comentar o “documento” (fui das ultimas a falar) já tinham passado duas horas de “discussão” sobre os propósitos do dito despacho (leia-se as folhas redigidas pelo tal prof. da escola), e a minha boca só se abriu para dizer: - não posso comentar, pois não conheço o teor do despacho.

 

Fez-se um silêncio providencial que a aqui autora agradeceu pois já lhe doía a cabeça, interrompido pela voz do autor do “documento” com uma indignação muito mal disfarçada: “- o despacho diz o que está aí escrito”. Olhei para a coisa e só respondi: “- sim, acredito que para o senhor assim é, mas eu precisava de ver o original.”

 

Para quem não me conhece é normal que pensem que fui muito pouco empenhada por ter desperdiçado a oportunidade de explicar umas coisas ao senhor. Mas a experiência diz-me que não vale a pena estar a falar para portas fechadas. E há dias em que a paciência não é muita. Se o homem não percebe estas coisas sozinho, não ia ser eu a perder o meu tempo a explicar o evidente.

 

Como podia ser eu, ali apenas uma representante dos pais, que por sua vez representam os alunos, a elucidar aquela cabeça, cuja profissão é suposto consistir em ensinar, e que ainda por cima é muito mais velho do que eu (logo com mais experiência, diria eu, deixem-me rir), que em nenhum local do planeta Terra, podemos estar a trabalhar sobre um documento que tem um autor (o legislador, neste caso) e alterar...até me faltam palavras...alterar TUDO? Eu lá tinha capacidade pedagógica para lidar com aquilo?


 

Ainda hoje guardo as folhas para as usar numa ocasião se me der jeito. Por exemplo, para demonstrar o mérito interpretativo da alma em causa. Sim, não nos percamos em pormenores que aquilo de o homem nem saber justificar um texto era só uma falha “tecnológica”. O homem desconhecia era completamente as regras da honestidade e do bom senso quando lidamos com as palavras do outro.

 

A criatura ainda não deve ter percebido que ninguém lhe pedia para ser interprete do Direito, senão o homem não estava numa escola do 1.º ciclo. Que nenhum Prof. Doutor da área se atreve a “escrever por palavras suas” a própria letra do legislador. Mas o que estava em causa nem era a questão da opinião nesta matéria ter de ser habilitada, como já perceberam. Aos especialistas o que é da sua competência, ou “cada galo no seu poleiro”, como preferirem. O que estava mesmo em causa eram, apenas, as regras simples da honestidade e do bom senso quando lidamos com “as palavras” do outro, como já disse, e que qualquer ser bem formado intui (até) por uma questão de respeito.

 

Hoje lembrei-me deste episódio a propósito das várias leituras que tentei fazer, na net, de textos escritos por professores. Salta logo à vista uma evidência preocupante: a criatura não estava sozinha no estilo. Tinha atrás de si um exercito de colegas que eu na altura desconhecia! A quantidade de letras com vários tamanhos e fontes diferentes dentro dos mesmos parágrafos, a confusão das cores supostamente, imagino eu, para destacar o que consideram mais importante mas que nos ofuscam ainda mais do que os máximos do carro ligados – é impossível. Eu tento mas não consigo. Quanto ao conteúdo não sei, não me posso pronunciar, porque não consigo ler. Espero que tenham cuidado com a palavra dos outros, pois a autoridade que tanto reclamam também começa por aí. Por sermos honestos, numa palavra.


 

Nota: Saí da sala a tempo ainda de ouvir a professora que mais barulho tinha feito durante toda a reunião (abanava com uma revista para as amigas e falava de um tal Castelo Branco que me pareceu não ser o Camilo) dizer: “- os estupores lá fora fazem um chavascal que já me dói a cabeça!”. Era o barulho, fantástico, das crianças a brincarem no recreio...

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Sábado, 9 de Setembro de 2006

Coisas que nunca mudam

A ministra da Educação tem uma proposta simples: que os professores entrem e progridam na carreira, não em função de um direito natural ou da antiguidade, mas do mérito. Dos resultados obtidos, das aulas dadas, das provas prestadas. Antes mesmo de conhecerem os detalhes da proposta, já os Sindicatos dos Professores estavam a ameaçar com “a maior greve que o país jamais viu”. Nesta resposta sindical, além da intragável atitude sistemática da Fenprof e do indigerível Paulo Sucena, encontramos a própria resposta à razão da decadência continuada do movimento sindical. Porque o mundo mudou, mas eles continuam a defender o mesmo de sempre: o “colectivo”, a “luta de massas”, os que têm emprego garantido até à eternidade, os que acham que todos devem ser tratados por igual, quer trabalhem e se esforcem quer vivam de meter “baixas” e fazer greve sem razão. Só um mau trabalhador teme uma selecção baseada no mérito; os bons não temem, e, por isso, os bons não estão hoje nos Sindicatos. Não é uma boa notícia, é uma má notícia: os maus patrões agradecem.


Há 30 anos que a política de educação neste país está sequestrada pelos Sindicatos dos Professores. E essa é uma das razões evidentes do nosso atraso e desenvolvimento. Senhora ministra: por favor, não desista.

Texto de Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 09 de Setembro de 2006

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Sexta-feira, 8 de Setembro de 2006

Professores portugueses são os terceiros mais bem pagos dos países da OCDE

Os professores portugueses são os terceiros mais bem pagos no “ranking” dos 30 países da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE), revelou hoje Ben Jensen, responsável do departamento de Estatísticas da Educação daquele organismo.

Tendo como valor de referência o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de cada país, Ben Jensen disse que, de acordo com dados de 2003, Portugal só é ultrapassado pela Coreia e pelo México. Os dados relativos a 2004 serão conhecidos na próxima terça-feira, mas, segundo o especialista, são "idênticos" aos de 2003.

Ben Jensen está no Porto, a convite da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), para participar no fórum "Uma visão desafiante para a profissão docente do século XXI", que hoje decorre.

Em declarações aos jornalistas, o especialista frisou que, "em Portugal, os salários dos professores estão bastante altos", referindo também que, em relação ao número de alunos por turma, o nosso país está igualmente "bem colocado". Neste parâmetro, Portugal ocupa o 9º lugar na lista dos países com turmas mais reduzidas, tendo em média 20 a 25 alunos.

Fonte: Publico.pt

Segundo o relatório ‘Panorama Educativo’, no 1.º Ciclo, um professor português trabalha 783 horas por ano; no 2.º Ciclo 626 horas e, no Secundário, 580 horas. A média da carga horária da OCDE é superior: 795, 701 e 661 horas, respectivamente.

Um professor do Ensino Básico em início de carreira recebe em Portugal 1135 euros mensais brutos. No topo de carreira ganha 2992 euros, revela um estudo da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE).

Fonte: Correio da manhã

Longe de mim dizer que os professores ganham muito, ou sequer bem, em Portugal. Na minha opinião até deveriam ganhar muito mais.  Afinal pagamos os nossos impostos para termos serviços de qualidade e a Educação, como a Saúde, são para uma prioridade. Nestas áreas justificam-se todos os investimentos. Mas também não gosto do discurso do desgraçadinho. Não há nada como falar claro e sem rodeios. Ninguém fica rico leccionando, obviamente. Mas afinal a coisa não é assim tão miserável como alguns nos querem fazer crer. E ainda bem! Pode saber mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.



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publicado por uma E.E. às 00:44
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Quarta-feira, 2 de Agosto de 2006

Hoje não aplaudo o Ministério!

Para gáudio de muitos: hoje estou aborrecida com o Ministério da Educação!

 

Li uma afirmação do Sr. prof . Paulo Sucena (mas ainda podemos considerar alguém professor quando não lecciona há décadas? A partir de hoje, no que diz respeito ao tratamento que dou ao excelentíssimo, está-lhe retirado o epíteto de professor, tenho dito) dizia eu, li hoje uma afirmação do dito “Sr. profissional dos sindicatos há uns 30 anos” que nos dava a fantástica novidade: “- podemos fazer mais um dia de greve, dois, três, quatro, os que forem precisos!”


Eu acho bem. Assim como assim, as greves são a única altura em que os professores faltam à escola mas não recebem o dia. Isto, porque dado o laxismo do sistema todos sabemos que há sempre uma maneira de justificar a habitual faltita e por isso os euros entram à mesma na conta do docente. Sendo assim: ao menos quando estão de greve não sai do erário público pagamento nenhum…

 

A minha ideia é a seguinte: mais semana, menos semana de aulas, acaba por não fazer muita diferença, pois os prejudicados são sempre os mesmos: OS ALUNOS!

 

Claro que, como estes profissionais dos sindicatos não ignoram (nessas matérias são muito empenhados, pudera, sobra-lhes tempo livre…), os prejudicados também são, como sempre, os ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO. E como sofrem! Vemos os nossos educandos com menos aulas do que as previstas inicialmente, com os reflexos que daí advêm no seu sucesso escolar… E muitos dos pais são obrigados a faltarem aos seus trabalhos porque não têm onde deixar os jovens. E não há que ter vergonha de o afirmar, ou ter qualquer sentimento de culpa – é a verdade muitas vezes trágica!

 

Por isso, quanto aos prejudicados estamos falados. Lá vamos indo…

 

Vinha isto a propósito de hoje estar particularmente aborrecida com o Ministério da Educação.

 

No passado ano, o Governo reduziu o número de professores a exercer funções sindicais a tempo inteiro de 1327 para 450. Não houve comentador político que não elogiasse a medida, desde a esquerda à direita, pois como sustentar 1327 pessoas a viverem à sombra do sistema no estado em que o país está?

 

Acontece que ontem os sindicatos de professores chegaram a um acordo com o Ministério da Educação quanto à distribuição dos 300 docentes que irão exercer funções sindicais a tempo inteiro. O acordo não me espanta nada (mais vale um pássaro na mão…) e acho bem. O que me surpreende é o número de Srs. e Sras. que vão exercer a tempo inteiro funções sindicais! 300?!

 

E quem paga? O erário público. Se o Estado gastava anualmente com estes docentes cerca de 20 milhões de euros em salários, agora parece que vai passar a gastar “apenas” oito milhões de euros…Oito milhões de euros? Terei lido bem? Ora…deixa lá ver…isso dava para quantos aquecimentos nas escolas que não têm…quantos computadores…etc., etc. Por isso estou zangada com o Ministério.

 

E não me venham com a lengalenga do discurso economicista. Do Estado exige-se rigor e contenção com os dinheiros que são de todos. Quando é que vão perceber?

 

Para os mais lerdos, não digo que não tenha de haver sempre lugar para docentes a exercerem funções sindicais a tempo inteiro. Claro que sim. A função sindical é das mais nobres conquistas civilizacionais que nos trouxe o 25 de Abril. Assim como o instituto da greve. Mas, meus amigos: o abuso do direito deve ser penalizado. Senão juridicamente (não estão reunidos os pressupostos), então politicamente! Estes senhores precisam saber que muito do eleitorado que vota nos partidos que sustentam ideologicamente a maioria dos sindicatos dos professores (e muita vocação têm os professores para a função sindical: já repararam na quantidade astronómica de sindicatos que têm em comparação com as outras áreas profissionais?!), precisam de saber, dizia eu, que muitos desses eleitores andam a pensar melhor onde depositar o seu voto na próxima vez que formos às urnas!

 

Não é o eleitorado de direita ou aquele que nunca vota que sente o “abuso” da actuação dos sindicatos! (Ou porque esse já pensava assim há muito tempo, ou nem pensa nada de relevante no caso dos que não votam.) É o eleitorado de esquerda que começa a ficar fartinho (mas fartinho mesmo) de tanta desconsideração dos que, obcecados por uma guerra sem qualquer sentido, andam a ter por nós!

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publicado por uma E.E. às 14:36
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Domingo, 30 de Julho de 2006

Homenagem aos bons professores

Na sequência do comentário da leitora “cidadã consciente” publicado meu post “Educação e Cidadania andam de mãos dadas” decidi, conforme lhe digo na minha resposta, escrever sobre os bons profissionais, pelas razões que enunciei então, na resposta a esse comentário.

 

Por isso publico aqui, em homenagem aos professores fantásticos que tive, aos outros que no mesmo local refiro e a todos os que andam por aí e que espero que sejam muitos… uma crónica assinada pelo Prof. Doutor Daniel Sampaio, Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, e que penso dispensar mais apresentações.


SOU UM PROFESSOR SÓ

Meu velho:

Desculpa estar sempre a mandar e-mails com as chatices da escola, mas és a única pessoa com quem posso desabafar sem problemas. Estou numa escola que conheces e, pelo que descreveste, pouca coisa mudou. A única diferença é que agora somos obrigados a estar mais horas e a confusão é grande. Imagina que se faz fila à porta do CE e que nos mandam dar aulas de substituição nas escolas do agrupamento, incluindo a do primeiro ciclo! Muitos colegas andam revoltados e os alunos não aceitam com facilidade um professor que não conhecem.

Eu vou fazendo pela vida. Não sou capaz de alinhar com os protestos, fiz greve apenas para não dar nas vistas; mas também sinto que as coisas precisam de ser melhoradas e por isso escrevo. No teu último mail recomendavas que me concentrasse na função actual do professor. Podes crer que fiz o TPC e aqui vai.

Sabes, António, sempre desejei ser professor. Quando era criança, inventava aulas a partir de um quadro preto que o meu Padrinho me tinha dado: explicava os meus próprios trabalhos a alunos imaginários, conversava com eles e até lhes ralhava. Fui para Estudos Portugueses porque sempre adorei ler e queria partilhar esse gosto com gente mais nova, depois fiz muitas acções de formação (com e sem créditos) para ver se ensinava melhor, estou na terceira escola e não quero desistir. Sabes o que não quero abandonar? O meu gosto em estar com crianças e jovens, nas diversas situações que ocorrem numa escola. Gosto de dar aulas, sobretudo quando consigo transformar a turma num grupo de trabalho e ponho toda a gente a participar. Adoro colaborar com a Associação de Estudantes e, bem ao contrário de ti, até tenho paciência para ouvir os pais, que recebo muitas vezes. Tenho muitas dificuldades, como sabes: os alunos têm poucas regras, sabem muito pouco e só falam em 'curtir', por isso às vezes me interrogo sobre o caminho a seguir. Com franqueza te confesso: sinto-me um professor só, às vezes quase um ET no meio da confusão, mas quero que me entendas. O meu lema é aproveitar TODAS as oportunidades para estar com os alunos, continuo com a ideia firme de que tenho coisas para lhes dizer e de que eles terão o maior gosto em estar comigo. Detesto quando os meus colegas (até tu) se põem a dizer mal de 5 mais novos, que não têm maneiras, que são ordinários ou desmotivados que parecem loucos. O nosso papel, a essência da nossa profissão não é justamente ajudá-los a crescer, escutá-los de forma activa, evitai que deixem a escola ou impedir que a frequentem sem sucesso? Posso dormir descansado quando cerca de 30% dos alunos da minha escola não completam o Secundário?!

Meu caro, não posso concordar com os colegas que dizem que estar com miúdos pequenos é ser 'ama-seca' ou 'entertainer'. Para mim, é uma ocasião que não posso perder: quero ouvi-los sobre as suas questões, auscultar os seus pontos de vista, ajudá-los a estudar, brincar com eles de forma organizada. No dia em que me convencer que os alunos do meu agrupamento, de todas as idades, se recusam a estar comigo, abandonarei a escola, porque de facto o meu ofício deixou de fazer sentido.

Estou de acordo que muito há a fazer para melhorar a confusão actual. As coisas precisam de ser mais bem explicadas e sobretudo melhor aplicadas. Mas recuso-me a cruzar os braços e a confessar que não sou capaz de falar com uma sala cheia de jovens desconhecidos. Mesmo que eles não me queiram à partida, não concordo: educar é também dizer não e acredito que tenho muita coisa para lhes dar. Responde depressa.
 
Um abraço, Hugo.


Esta Crónica foi publicada na Revista XIS, Jornal Público, a 03-DEZ-2005, e pode ser lida aqui.


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publicado por uma E.E. às 14:58
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Sábado, 29 de Julho de 2006

Maria de Lurdes Rodrigues trouxe ao Ministério da Educação uma extraordinária lufada de ar fresco

Educação, professores e avaliação

Todos os governos têm bons e maus ministros. O actual Governo não é excepção: alguns ministros são excelentes, outros desastrosos.

 
A mais agradável surpresa entre os actuais governantes é provavelmente a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. A actuação da ministra da Educação tem sido, desde o primeiro dia, extremamente certeira.


Começou pela decisão, muito impopular mas não menos importante, de mandar encerrar escolas com um número insuficiente de alunos. Não é sério discutir-se constantemente os problemas de uma evolução demográfica muito preocupante, com muito baixa natalidade e o envelhecimento dramático da população, e esquecer que essa realidade implica necessariamente reduzir a oferta de serviços públicos dirigidos às crianças.

 
Mais recentemente a ministra começou a atacar o problema do insucesso escolar. Todos reconhecem que este é um dos problemas mais graves com que o país se defronta.

 
Apesar de Portugal ser um dos países do mundo que mais gasta em Educação, os resultados são muitíssimo insatisfatórios. Estamos num dos últimos lugares na Europa no que respeita ao nível educacional da nossa população. Arriscamo-nos mesmo a ser ultrapassados pela Turquia, país bem mais pobre e atrasado do que Portugal. É impossível pensar-se numa economia desenvolvida e moderna – com ambições de acompanhar o desenvolvimento baseado no conhecimento e de pôr em prática um ambicioso plano tecnológico – e manter um nível de insucesso escolar comparável ao dos países do Terceiro Mundo. Os nossos jovens deixam a escola com muito poucos conhecimentos; pior ainda, saem com o sentimento de que a exigência não interessa, que os exames são uma aberração, que a escola não os ajuda na sua vida e na sua realização profissional.

 
A grande controvérsia que hoje impera no mundo da educação resulta de a ministra ter afirmado que os professores também são responsáveis pelo insucesso escolar. E, no entanto, nada é mais natural: os professores têm uma missão bem definida, muitíssimo importante e insubstituível – educar.

 
Se a educação não está bem, se o insucesso escolar se tornou num problema gravíssimo, os professores não podem em caso algum dizer que não têm nada a ver com o assunto, que a responsabilidade não é sua, que outros são os culpados.

 
São eles quem dia a dia recebe as crianças, com a extraordinária missão de lhes transmitir conhecimentos, de os formar, de os preparar para a vida profissional e para o papel que cada um deve desempenhar na sociedade. O seu trabalho é dos mais nobres e dos mais importantes em qualquer sociedade. Por isso mesmo, tem de ser concretizado com grande seriedade e profissionalismo, respondendo a níveis de exigência muito altos.

 
Há evidentemente muitos bons professores em Portugal; há também muitos outros que encaram o seu trabalho como uma rotina que tem de ser cumprida, sem qualquer preocupação com os resultados.

 

Daí que, de facto, a primeira prioridade na melhoria da acção educativa tenha de ser uma séria avaliação dos professores, com grande capacidade de discriminação entre bons e maus, com recompensas tangíveis para os bons e sanções pesadas para os maus.


Depois de muitos anos em que todos os professores são classificados como muito bons e em que todos sem excepção sobem automaticamente ao topo da carreira, é imperativo que se reintroduza alguma seriedade na avaliação e que se restabeleça a meritocracia como critério único de progresso na carreira.
-------

Toda a administração pública portuguesa é avessa à avaliação. Muitos professores e, sobretudo, os seus sindicatos consideram a avaliação insultuosa, com o argumento falacioso que se destina apenas a poupar dinheiro.

 

A realidade é bem diferente: a pedra-de-toque de qualquer grande organização é a sua disponibilidade para aceitar uma avaliação séria, exigente e, sobretudo, independente.

 

Ao recusarem a avaliação, os professores – ou alguns deles – estão a prestar um péssimo serviço aos seus alunos: eles vão ser avaliados sempre, pela vida fora. Bem ou mal, essa avaliação determinará o sucesso ou insucesso que terão nas suas vidas. E quase sempre a avaliação será exercida de forma exigente e decisiva, pelo mercado, pela profissão, pelos destinatários da sua actividade. Os professores não podem argumentar que o que se aplicará aos seus alunos não é válido para eles próprios.


A essência de qualquer processo de avaliação é o seu carácter discriminatório. Os professores, como quaisquer outros profissionais, têm de aceitar que há muito bons, bons, medíocres e maus.


Daí que as quotas sejam absolutamente essenciais em qualquer processo sério de avaliação. Se, como, até aqui, a avaliação classifica todos bons ou muito bons, estamos perante uma enorme farsa, que justamente corresponde à negação do conceito de avaliação.

 
Por último, a participação dos pais no processo de avaliação dos professores é fundamental. Os pais são os principais interessados na boa educação dos seus filhos. Melhor do que ninguém, eles sabem o que é melhor para as crianças.

 
É aberrante que, reconhecendo a todos sem excepção a capacidade e competência para avaliar e escolher quem nos governa, não aceitemos aos pais a capacidade e competência de avaliar quem educa os seus filhos. Em todas as melhores universidades do mundo os professores são avaliados pelos alunos.


Não é, evidentemente, a única avaliação, nem talvez a mais importante; mas tem a vantagem de reflectir o ponto de vista daqueles a quem a acção educativa se destina. Nas escolas primárias e secundárias têm naturalmente de ser os pais a desempenhar esse papel.


Convém aliás recordar que os pais já hoje avaliam os professores em todas as escolas do ensino particular. E essa avaliação é a mais radical e definitiva: quando não estão satisfeitos, os pais retiram os filhos da escola e mudam para outra.

 

Se o princípio da participação dos pais na avaliação não se aplicar nas escolas do Estado, estamos apenas a retirar aos pais que optem por essas escolas um direito fundamental: o de terem uma palavra a dizer sobre a educação dos seus filhos.

 
As frentes de batalha que, provavelmente contra a vontade da ministra, se vêm abrindo na educação são das mais decisivas para o futuro do país.

 
O problema da educação não é o da falta de recursos – antes pelo contrário, é o do esbanjamento de recursos.

 

É indispensável repor uma grande seriedade na acção educativa, o que implica o empenhamento dos professores, os únicos que podem de facto fazer a diferença. A avaliação é uma peça fundamental da renovação que se exige na educação. E a participação dos interessados, a quem a educação se destina, é uma garantia de seriedade e de independência.

 
Maria de Lurdes Rodrigues trouxe ao Ministério da Educação uma extraordinária lufada de ar fresco. Pela primeira vez, desde há muitos anos, se estão a atacar os verdadeiros problemas de um sector fundamental da acção do Estado.

 
Se for bem sucedida, ficaremos com outra esperança quanto à viabilidade da reforma do Estado em Portugal.


Se ceder ou diluir as suas reformas face às posições retrógradas e corporativistas de quem se sente atingido no seu conforto e nos seus privilégios, então continuaremos com boas razões a duvidar do futuro do país.


 

Artigo de ANTÓNIO BORGES,

Ex-Dean do Insead, em Fontainebleau, França; Membro do Conselho de Governadores do Wellington College, em Inglaterra e membro do Concelho de Administração da Universidade Bocconi, em Itália.

In “Público”, 18.Jun.2006, e pode ser lido aqui.

 

Nota para os aliens desesperados que, confrontados com opiniões diferentes das suas, acusam os seus autores de “estarem comprados”: Querem ver que o P.S. conseguiu comprar o António Borges, “barão” do P.S.D.? Quanto terá custado?


 

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Quinta-feira, 27 de Julho de 2006

Sindicatos dos professores

Encontrei um texto engraçado, que julgo importante porque transmite o que muita opinião pública sente. Pelo menos é o que me dizem muitos pais já cansados de irem por os filhos à escola e não terem professor.

Numa época em que muitos portugueses andam à cata de situações ilógicas e abusivas foi um erro a estratégia de terra queimada adoptada pela FRENPROF; os sindicalistas dos professores sabem muito bem quantas horas de aulas dão muitos professores, como são feitos os horários, como são feitas as turmas e quantas horas semanais trabalham a maioria dos professores. O resultado foi o que tiveram de ouvir do Presidente da República e o facto de muitos portugueses apontarem o dedo aos professores devido ao vantajoso estatuto, sendo inevitável a sua associação à má qualidade do ensino e ao insucesso escolar. Muitos dos professores dos ensino básico e secundário portam-se como professores universitários, vão às escolas dois ou três dias, dão umas quantas aulas e seguem para as suas vidas à espera que cheguem as suas férias prolongadas.


Texto retirado de “O jumento”, um dos blogs mais populares da blogosfera. É impressão minha ou ele já foi professor? Será que sabe do que fala?


Bem, mas eu acrescento que não são todos...são só alguns. Na escola de um dos meus educandos ainda no 1.º ciclo, por exemplo, o professor dele nunca faltou (bem haja!). Acreditem ou não...todos os outros, mas mesmo todos os outros docentes daquela escola, estiveram largos meses de baixa (e nas mesmas turmas chegámos ao ponto de termos 3 professores diferentes neste ano lectivo). Deve ter sido só azar!
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Quarta-feira, 26 de Julho de 2006

Educação e Cidadania andam de mãos dadas

Quantos de nós conhecemos indivíduos recheados de habilitações académicas, mas que depois verificamos serem uns estafermos no seu dia-a-dia? Não participam nas reuniões de condomínio, não sinalizam as manobras que fazem na estrada, não têm autocontrole sobre os seus ímpetos, não têm respeito sobre as opiniões nem os espaços/direitos dos outros, não participam na vida politica (nem que seja ao menos cumprindo o dever/direito de votar), etc. Isto só para dar alguns exemplos dos que mais me aborrecem...

Para mim “Educar” é um processo de transformação do animal humano num cidadão pleno. Assim: quem educa é a sociedade.

Educa através das entidades especializadas (escolas, universidades) e através das palavras dos pais e das acções dos pais.

Mas também educa através de todos os seus membros, em todas as latitudes e longitudes, a todo o momento.

A sociedade educa através dos livros, das empresas, dos jornais, dos programas de televisão (ai…famosas telenovelas!), da rádio, do desporto, das igrejas, da tortura dos prisioneiros políticos…

Assim, cada um de nós é um professor a serviço da sociedade ou contra ela, em função dos valores estabelecidos. E tal facto é óbvio: o homem é um ser social e a sua vida não tem sentido se não estiver inserida na sociedade.

Todos somos responsáveis pela sociedade que temos, portanto.

Percebo, por isso, quando alguns professores vêm para a praça pública reclamar que se espera da escola mais do que aquilo que ela pode dar. Sem dúvida. Os professores não têm uma varinha mágica que eduque para o ambiente, a sexualidade, a alimentação, a prevenção de incêndios, para o direito à diferença, para a não discriminação, para a democracia. (Alguns deles são mesmo a antítese dessa “educação”: veja-se os fóruns de professores que há na Internet e a forma como eles se insultam mutuamente sem qualquer decoro…)

O que já não percebo é que sejam eles, professores, os primeiros (de uma forma mais encapotada ou mais óbvia, conforme a sofisticação) a sacudir a água do capote quando lhes é imputada alguma responsabilidade.

O que não percebo é que não queiram aceitar a evidência de que também são responsáveis pelos resultados dos alunos. Que não percebam que, como nós, em qualquer actividade, são (também) responsáveis pelos resultados. Que não percebam que É PRECISO PENSAR A EDUCAÇÃO.

Que não percebam que a sua avaliação, séria, apenas vai favorecer os que são bons e penalizar os que são maus, e que isso só pode ser bom para a classe e para todos.

E não venham dizer que é sobre “esta avaliação” que estão contra. Os professores querem viver sem NENHUMA AVALIAÇÃO. Que sabedoria esta a destes senhores…que está acima de todos e de qualquer instância.

Todos nós sabemos que os professores são os primeiros a quererem correr com os pais da escola, por exemplo. Basta ver o que dizem entre eles, a chacota que fazem em alguns blogs sobre os pais menos habilitados academicamente, o folclore da simulação de “cartas de avaliação” cheias de erros ortográficos.

Eu sei que pais que não sabem ler nem escrever podem ser excelentes educadores. Estes Srs. “professores” não sabem isso. E sei interpretar português, pelo menos o suficiente para perceber que na proposta da Sra. Ministra não se trata disso, de "cartinhas". Eles não interpretam o português, eles reformulam o que está escrito (e muita comunicação social vai no jogo) conforme o que lhes dá mais jeito para a acção de propaganda.

O que não percebo é o MEDO. Falta muita cultura democrática a esta classe. Não aceitam ser criticados. Não querem ser postos em causa. (E eu que educo as minhas crianças a porem tanta coisa em causa…)
sinto-me:
publicado por uma E.E. às 22:48
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Terça-feira, 25 de Julho de 2006

A Memória Curta e os Sindicatos

Nunca como hoje os sindicatos dos professores estiveram na rua.


Não que não estejam no seu direito. Claro que sim. Formalmente, porque substancialmente, as razões que os levam a protestar, essas, têm muito que se lhes diga...


Há uma coisa sobre a qual eu tenho a certeza absoluta: estes Srs. dos sindicatos, paulo’s sucena’s e companhia’s Lda.”, estão-se nas tintas para os alunos: para os seus resultados escolares, para o enriquecimento dos currículos, para a formação dos jovens enquanto pessoas. Senão veja-se inclusive os exemplos de respeito pelos outros que dão aos alunos, como quando se referem à Sra. Ministra usando expressões como  “sorriso de medusa” (termo usado pelo Sr. Paulo Sucena ao referir-se ao sorriso da Ministra). É coisa de educador, é um grande exemplo de urbanidade, não acham?


Na realidade também estão-se nas tintas para os pais: basta ver o calendário que normalmente é escolhido para fazerem as greves. Eu ando farta deles. Mas com isso posso eu bem.


Com o que “já não posso” é com tanta hipocrisia da parte destes “professores” (que nem leccionam) sindicalistas! É que nem todos temos a memória curta…e onde é que estavam os sindicatos dos professores nos últimos anos? Alguém se lembra onde estavam os sindicatos quando, por exemplo, no tempo em que Cavaco Silva era 1.º ministro e Roberto Carneiro o seu ministro da Educação, o ano lectivo nas universidades só teve início no mês de JANEIRO? As “reformas” foram tão boas, os processos atrasaram-se de tal maneira, que os alunos da 1.ª fase só souberam das colocações em JANEIRO! Foi inédito e foi obra, pois não deve ser fácil conseguir agrupar tanta incompetência junta. Alguém se lembra de ver "paulo’s sucena’s e companhia’s Lda.” defender os alunos? A marcar alguma posição? A exigir mais competência?


A verdade é que bastou este Ministério da educação mandar trabalhar os professores um bocadinho mais, e por boas razões, para os sindicatos entrarem numa histeria nunca antes vista. O Ministério fê-lo no prolongamento do horário no 1.º ciclo (apenas mais 3 horas semanais foram suficientes para esta celeuma) e fê-lo nas aulas de substituição. Pretende fazê-lo relativamente às faltas (é vergonhoso como os professores faltam) e pretende que os profs incapacitados sejam aproveitados para trabalhar (afinal recebem o seu salário, pago por todos nós, é justo que produzam). Estas são as verdadeiras razões que movem os protestos dos sindicatos na luta contra este Ministério.

 

Aliás, pergunto-me para que precisaram estas instituições de centenas de "professores" nas suas fileiras, que sobem na carreira de professor mas dão tantas aulas como eu!


Quem pertence à classe dos professores e já não faltava, quem já dava aulas de substituição, quem já permanecia na escola o tempo devido, quem gosta do que faz (pois a falta de motivação de que muito professores falam é devido a terem escolhido uma carreira de que não gostam), esses não se queixam, nem alinham no jogo sujo muitas vezes feito por esses sindicatos. E existem muitos desses. Nas escolas onde eu participo, através da Assembleia de Escola e através do Conselho Pedagógico existem vários…é uma pena  que sejam ostracizados pelos próprios colegas.

sinto-me:
publicado por uma E.E. às 17:14
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Domingo, 23 de Julho de 2006

Dar Futuro ao Interior / Reordenamento das Escolas do 1.º Ciclo

Muita polémica tem gerado o encerramento de escolas. Como sempre, fazer demagogia é fácil, é barato e no caso de alguns até dá milhões! No caso dos Sindicatos e “dos professores” (alguns, meus senhores, alguns: não são todos…), pois claro, esses milhões são traduzidos nos lucros mediáticos que resultam de mais uma campanha contra a Ministra que não gostam apenas porque um dia tocou nos seus interesses, corporativos, e isso não lhe perdoam.


Em 2001/2002, 29,1% das escolas do 1.º Ciclo (2420 escolas) tinham uma frequência inferior a 11 alunos!


Alguém acredita, se estiver sinceramente preocupado com a educação das nossas crianças, que isso pode ser bom, razoável ou sequer aceitável para algum aluno?

Nem vou falar em números e nas dificuldades/impossibilidades no que diz respeito à degradação das instalações, à falta de espaços e à inexistência de refeitórios, bibliotecas ou ginásios, equipamentos necessários ao sucesso das aprendizagens.


Para mim, ainda que as condições físicas fossem perfeitas (e não o são, nem há condições para virem a ser) persistiam as principais preocupações:


Que efeitos tem numa criança o isolamento social, cultural? A falta de convívio com gente diferente, com costumes diferentes, com gostos diferentes? Que efeitos tem o facto de partilharem o mesmo professor com alunos de anos diferentes? (Gentes/pais que ainda lhes fornecem, muitas vezes, vinho ao pequeno almoço e cuja actividade lúdica consiste em levar as crianças à missa no Domingo). Que efeito tem verem as mesmas caras, as mesmas pessoas, os mesmos montes, as mesmas ovelhas, dia e noite, dia após dia? Perdoem, mas isto até me faz lembrar a Heidi que nem sequer era portuguesa…e não consta que tivesse encarregado de educação, a não ser um avozinho já mais para o cego…!


Espero que esta Sra. Ministra não volte nem uma linha atrás nos seus propósitos, para que acabe com este factor de atraso e de bloqueio social e cultural das gerações que  habitam esse interior de Portugal.



Por mim, quem devia ir para o interior despovoado era o Sr. Paulo Sucena (senhor muuuuiiiito preocupado com as assimetrias regionais e com as desigualdades sociais, eheheh)…rodear-se de mais uns 10 colegas parecidos com ele (candidatos não faltam por aí) e deixavam-nos a nós em sossego…Desculpem lá, mas sonhar nunca fez mal a ninguém!


 

sinto-me:
publicado por uma E.E. às 13:00
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Sexta-feira, 21 de Julho de 2006

Explicações : ou a insuficiência do 1.º Post

Está o "blogzinho" a fazer 8 dias e já me sinto na obrigação de dar explicações.
Mas não há problema nisso, afinal não quero ser mal entendida.

O propósito deste espaço está explicito no 1.º post .  Acho que qualquer um de boa fé, mesmo que seja professor, consegue interpretar as singelas linhas ali redigidas.

Não tinha planeado escrever aqui qualquer experiência pessoal, a não ser os episódios que tivessem a ver com a minha visão da politica deste Ministério da Educação, enquanto Encarregada de Educação. No entanto, devido a uns e-mails que recebi, venho acrescentar a explicação que pensava ser escusada: NADA ME MOVE CONTRA OS PROFESSORES.

Para mim é óbvio: os paizinhos deram-me educação e os professores ensinaram-me as matérias. Alguns até fizeram mais do que isso, e foram companheiros e amigos. Afinal, acabei o meu secundário (na escola pública, onde sempre andei) com nota de 18,7. E graças a isso entrei no curso que queria, para onde me apetecia e formei-me onde me deu na real gana. É tão evidente que a coisa não se fazia sem professores, e BONS, que nem me passou pela cabeça ter de vir a escrever : NADA ME MOVE CONTRA OS PROFESSORES.

Bem. Espero que agora tenham entendido.

Quanto às motivações, são exactamente as mesmas que estão escritas no 1.º post .


sinto-me:
publicado por uma E.E. às 03:08
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Quinta-feira, 20 de Julho de 2006

Ainda as Tecnologias

Ahahahahahahahahahah !
Ainda me estou a rir do Sr. professor referido no post anterior.

Hoje encontrei a minha vizinha do 1.º Dto. no supermercado. Sra. já com muitos anos de ensino, quase na reforma e com filhos a dominarem as novas tecnologias! A pessoa ideal para comentar as ditas reivindicações do colega.

Surpreendentemente, a Sra. que é sempre tão simpática e fluente na expressão, começou por corar até à ponta dos cabelos e terminou a dizer-me com a  voz trémula:    " - sabe, também há muitos colegas estúpidos ..."

Fiquei arrependida de me ter rido tanto...afinal, nisto como noutras coisas, paga o justo pelo pecador.

P.S.: Será muita maldade minha dizer que a vizinha já me confessou ter muitas dificuldades no manuseamento do multibanco, porque ainda não se habituou a estas coisas das tecnologias?
sinto-me:
publicado por uma E.E. às 22:01
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Quarta-feira, 19 de Julho de 2006

Novas Tecnologias

Há pouco tempo, num net passeio, encontrei um professor muito indignado com o trabalho administrativo dos professores e o estado da tecnologia nas nossas escolas públicas.

  • Dizia o Sr. que era inadmissível a existência dos livros de actas, "que fazem perder imenso tempo ao professor!";
  • Que era inadmissível a existência da "chamada" no inicio da aula, que "faz perder imenso tempo ao professor!", sendo que devia ser substituida por um sistema de cartões... (boa!);
  • Que era inadmissível a existência do livro de ponto, "que fazem perder imenso tempo ao ao professor!", sendo que devia ser substituido por um programa informático;
  • Que são inadmissiveis as cartas manuscritas aos encarregados de educação, "que fazem perder imenso tempo ao professor!", sendo que deviam ser substituidas também por "um sistema de gestão documental"! (eheheh)
  • Que era inadmissível os professores terem de produzir e corrigir micro-testes, "que fazem perder imenso tempo ao ao professor!", quando um sistema informático é capaz de o fazer perfeitamente.

Ahahahahahahahah!
Cá em casa adorámos: foi uma gargalhada pegada!


Nota: Este post  tem uma enorme lacuna: não expliquei porque é que cá em casa achámos “tanta graça” ao texto do professor em causa. Para quem achou que eu podia ser avessa às novas tecnologias (não sou, muito pelo contrário!) leia aqui na resposta que dou a um comentário, as razões que motivaram a risota...


sinto-me:
publicado por uma E.E. às 08:59
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Terça-feira, 18 de Julho de 2006

Professores incapacitados

Ficámos a saber os números. Eu confesso que não me surpreendi. O que me surpreendeu, francamente, foi a falta de vergonha dos sindicatos e a lata ilimitada de alguns partidos da oposição.


Temos então 2.500 professores incapacitados de leccionar por questões de saúde, maioritariamente por questões de saúde mental. (Mas que continuam aptos a desempenhar outras funções que não a docente).


O Governo fez então a proposta que os muitos acharam indecente:   que sejam integrados noutros serviços da Administração Publica. (Até o Ministério da Cultura já veio propor integrar 700 desses profissionais nos quadros dos organismos tutelados pelo Ministério da Cultura, como museus e palácios, sendo que assim estes docentes terão oportunidade de progredir noutra carreira). Em rigor, nem podemos falar de 2.500 professores, pois 10% desses profissionais estão impedidos de dar aulas devido a doenças oncológicas ou degenerativas e, quanto a estes, o Ministério decidiu que a escolha de uma nova carreira na função pública é opcional, sendo que podem continuar a trabalhar na escola.


Para além desses, só este ano lectivo, estiveram outros 3.000 docentes sem poderem dar aulas por terem estado incapacitados temporariamente. Contudo estes não estão abrangidos pela proposta; afinal trata-se de uma "incapacidade temporária"...


A proposta parece de elementar bom senso. Alguém pode considerar justo que estes Srs. "professores" que não trabalham, que não estão a fazer qualquer outra função útil para a sociedade, sejam remunerados como os seus colegas que efectivamente exercem e, como se não bastasse, ainda possam progredir automaticamente nas carreiras em função da antiguidade? Estamos a esquecer que esses ordenados são pagos por todos os contribuintes?


Os sindicatos entraram na habitual histeria. O Sr. Paulo Sucena disse cobras e lagartos da proposta. Sim, não fosse o Ministério meter-se também com as centenas de professores que estão em tempo integral a serviço dos sindicatos e que não leccionam há décadas, como parece ser o caso dele...enfim. Felizmente parece que a coisa vai para a frente. Esta gente não percebe que se a imagem deles está a ficar "pelas horas da morte" deve-se a estas e outras reacções sem qualquer bom senso.


Eu conheço uma professora que este ano lectivo fez parte dos 3.000 declarados incapacitados temporariamente. A Sra. em causa tentou boicotar por todos os meios (inclusive pressionando os próprios colegas) o funcionamento do prolongamento do horário do 1.º ciclo. A tentativa de pressão sobre os pais, então, foi indecorosa, chegando a ameaça-los de que se algo acontecesse às crianças entre as 15h e as 17h 30, a culpa era deles, e a escola não se responsabilizava pela sua segurança...enfim. Como já se adivinha não conseguiu boicotar coisa alguma e por isso declarou a alto e bom som perante uma plateia de pais a sua decisão:   que se ia embora, que "não estava p'ráquilo", que para o ano "ia p'rá reforma" e que por isso "não estava p'ra aturar isto".


A Sra. foi para casa. Quando eu soube ainda ponderei fazer ou não queixa dela. Afinal a baixa era fraudulenta. Mas rapidamente percebi. Qual queixa, qual quê...antes ela a enganar os contribuintes portugueses (assim como assim, era só mais uma) do que ter aquela pessoa na escola a "ensinar"  duas dezenas de criancinhas que tinham todo o direito a melhor companhia. Assim como assim achei que a baixa psiquiátrica lhe assentava que nem uma luva...e optei por livrar as 20 criancinhas do martírio.

sinto-me:
publicado por uma E.E. às 20:34
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Domingo, 16 de Julho de 2006

Apenas algumas das mudanças no 1.º Ciclo: prolongamento do horário escolar

Sim, também vou falar de dinheiro.
E não puxem já dos cabelos naquela atitude à beira do histerismo tão vista nos últimos tempos da parte de alguns agentes educativos... dêem lá o beneficio da dúvida.

Neste ano lectivo que agora terminou, assisti a uma pequena revolução na escola do meu educando. Noutros posts falarei do papel dos professores nessa "revolução" e nos efeitos que essa nova vivência proporcionou aos alunos. Por agora vou "apenas" referir como a minha e outras carteiras foram afectadas por este Ministério e, da consequente melhoria na qualidade de vida - que se reflectiu na melhoria das condições de aprendizagem dos alunos.

PROLONGAMENTO DO HORÁRIO ESCOLAR

COMO ERA A SITUAÇÃO ANTERIOR

Até então, porque a escola fechava às 15h, alguns alunos, privilegiados , iam passar o resto do dia para casa. Ou porque um progenitor / outro parente não trabalhava fora de casa, ou porque havia uma empregada a ir buscar o aluno à escola, ou porque... eram filhos de professores. Seria dos horários dos pais?

Esses eram os privilegiados, mas convém  lembrar que também existia um pequeno número de alunos que iam para casa onde ficavam sozinhos largas horas, pois os pais estavam a trabalhar e não tinham condições económicas para sustentar as respostas privadas (e únicas até agora aqui na zona) para a ocupação daqueles tempos livres.

No meu caso, igual ao da maioria dos E.E ., o meu educando seguia para um A.T.L .
Muito bem: nesse espaço eram disponibilizadas aulas de Música, Inglês e Educação Física uma vez por semana, em dias alternados. Ainda sobrava tempo para muita brincadeira, artes plásticas e várias visitas de estudo e passeios.

Pessoalmente nunca me preocupei. A razão da minha criança ter de ir para um A.T.L . depois da escola terminar às 15h, não se prendia apenas e só com os horários profissionais, mas também com o meu conceito de "educação". Por exemplo, era fundamental para mim colmatar a ausência de Desporto Escolar, e as razões porque acho importantes as crianças terem noções de Música e de Inglês nestas tenras idades são tão evidentes que carecem de explicação...

Nunca tive a sensação de "depositar" a minha criança num espaço que apenas "cuidasse dele", mas sim a sensação excelente de o ver todos os dias a receber uma educação mais completa, sempre a despertar para novas realidades e experiências só possíveis de serem transmitidas por profissionais.

O carinho desta E.E . e dos outros parentes chegavam, como chegam hoje, ao fim da tarde, onde o acompanhamos ainda a outras actividades (faz dois desportos desde os 4 anos), depois fazemos os TPC e todas as outras rotinas até ao deitar.

Parece tudo bom, não é? E quanto custava ao orçamento familiar essa "educação mais global", não limitada aos currículos académicos " ? Ora, era coisa para uns 150 mensais. Se tivermos em conta que com o transporte da escola para o ATL a criança só chegava lá depois das 15h 30m (como eram muitos a carrinha fazia várias viagens), estamos a falar de umas 2 horas, duas horas e meia, passadas com o  A.T.L. Um bocadinho caro, não acham?  Talvez agora se perceba porque alguns pais eram obrigados a deixar as suas crianças largas horas sozinhas em casa... talvez agora se perceba porque há uns tempos atrás uma E.E ., que tem 3 filhos, me dizia: - sem ter horário de professor isto tornasse muito difícil!


COMO É A SITUAÇÃO ACTUAL

Actualmente estamos em férias escolares, mas durante todo o passado ano lectivo a situação mudou, e mudou para muito, muito melhor!

A escola passou a estar aberta até às 17h 30m para as actividades extracurriculares . Ver Despacho
A escola tem todas as condições físicas, de espaço, para ser aproveitada.
Há muitos professores sem horário completo e nas outras condições que o Ministério indica como aptos para serem afectos a este tipo de resposta.

Os "recursos humanos" é que na sua maioria, não gostaram nada da ideia! Infelizmente passaram-se episódios trágico-hilariantes que relatarei assim que puder. (Isto merece muita reflexão).

E, como prometi que neste post iria falar de dinheiro...já imaginam, não é? Todas as crianças do 3.º e 4.º anos (todas, se os pais assim decidirem, pois trata-se de uma actividade extracurricular , de frequência não obrigatória) passaram a ter aulas de Inglês, três vezes por semana, GRATUITAMENTE. Ver Despacho

Engraçado, ia falar de dinheiro e acabei por falar em IGUALDADE...o Estado, finalmente, ao cumprir o seu papel (aplicar o dinheiro dos nossos impostos ao serviço do cidadão), tornou acessível A TODAS as crianças aquilo que até este ano lectivo estava acessível APENAS A ALGUMAS...

Igualmente DE FORMA GRATUITA, a escola passou a fornecer tempos para  a Música, a Educação Física, as Artes Plásticas. As crianças passaram a ter acompanhamento na feitura dos TPC . (E, sobre os TPC falarei mais tarde).

Finalmente, vi a escola pública a tentar cumprir o ideal de escola.

Finalmente, senti que dentro do espaço da escola também há espaço e tempo para brincar, jogar, aprender coisas diferentes que não o mero currículo . Afinal, se a Escola Pública é opção para alguns (cada vez menos "alguns") é a ÚNICA SOLUÇÃO  para muitos (cada vez mais).

Finalmente senti que os nossos impostos andam a servir para alguma coisa...
sinto-me:
publicado por uma E.E. às 22:30
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